20 janeiro, 2008

Feliz Natal


Aproxima-se o final de mais um ano - Ano de 2007. Estamos a três dias do Natal e o clima entre as pessoas, principalmente da boca para fora, é de cordialidade, de votos de um feliz natal e próspero Ano Novo. O comércio está em festa, os comerciantes de um modo geral aumentando os preços de seus produtos e juram estarem oferecendo promoções. A criançada toda de férias, alegres, compromissadas apenas com suas brincadeiras infantis e a espera de um Papai Noel. Mesmo as mais pobres sonham com uma lembrancinha, um prato de sopa quente, um pão. Feijão, não, está muito caro, os olhos da cara. Feijão só nas voltas às aulas. Aqueles com um furinho e um bichinho dentro que os governantes oferecem na merenda escolar.Os aeroportos lotados de passageiros, famílias dormindo pelo chão, crianças amamentando sujeitas a todo tipo de desconforto. Idosos sendo ameaçados de levar uma bifa por estarem reclamando e exigindo tratamento diferenciado de acordo com a lei e estatuto que ainda não decolaram de vez, cachorros, gatos, veados, muitos veados todos aglomerados nos salões dos aeroportos. Agências de viagens aéreas vendendo mais passagens que o número de vagas existentes nos aviões e a imprensa falada, escrita e televisiva usa pomposamente para designar esse tipo de fraude uma palavra estrangeira "overbook" um puro desrespeito à língua pátria. Ministros sendo depostos por total incompetência e seus sucessores ainda, com a maior falta de ética e boa educação, os humilham em público e através da televisão dizendo que quem sabe faz e quem não sabe pega ao rolo de papel higiênico e vai fazer noutro lugar.Embora que passado algum tempo trilha a mesma rota da incompetência.
Diante de um quadro dessa natureza muitos seres humanos se sentem comovidos, sensibilizados, tristes, nostálgicos, assim fico também nesse momento. Há também aqueles mais fortes em seus sentimentos que pouco se sensibilizam , nem mesmo com a perda da CPMF (aquela Anaconda financeira) pelo governo, eles não perdem o sono. Também, nada vai sair dos bolsos deles!
E é nesse momento nostálgico que me lembro de uma estória que ouvi outro dia quando almoçava solitário no cantinho do bode aqui na minha cidade.
A estória é mais ou menos assim:" Inocêncio era um vida torta, um ébrio, um irresponsável a mais de quarenta anos dos seus sessenta já vividos.Tinha o corpo tatuado, cheio de cicatrizes, era mal asseado, estúpido, mas como todo mundano era bastante vivido e inteligente porém quase sempre vivia alcoolizado. Um dia ao passar em frente a uma igreja evangélica achou admirável a maneira como um pastor chutava a imagem de um santo; maravilhou-se e resolveu aceitar os ensinamentos. Certo dia assistindo alcoolizado a uma pregação, ou melhor um culto religioso, o pastor Outro) começou a exorcizar um elemento que estava possuído pelo inimigo. O pastor com a mão direita na cabeça do possuído fazia orações e determinava que o ente do mal deixasse o corpo daquele cristão mas não estava obtendo resultado. Foi quando Inocêncio se aproximou, tomado por uma grande comoção e muita cana, e na maior cara de pau substituiu o pastor. Ele colocou a mão sobre o ombro do possuído e começou a dizer: e aí mano velho, larga esse osso que isso aí não mais te pertence, larga esse osso ôme, esse cavalo ta bichado meu, vamos lá brother, volta pras gatinhas meu, salta fora que a fila quer andar meu chapa, você sabe criatura que não existe possuidor sem possuído, dá no pé bicho aqui só atem cascalho e outras gírias foram ditas e em poucos segundos a pessoa endemoniada estava livre daquela encarnação, o demo se fora.
Diante do ocorrido o pastor se viu na obrigação de convidar Inocêncio para dar seu testemunho pois ,sabia que ele era um novo convertido e o que acabara de ver era a glória.
Inocêncio se viu atrás do púlpito, diante de uma igreja lotada de fies , simpatizantes e penetras que lá iam apenas merendar e bisbilhotar a vida alheia.
. E iniciou seu testemunho dizendo: por muito tempo eu vaguei pela sombra do vale da morte. Os fies, aleluia!.mentí – aleluia; roubei – aleluia , prostitui,, matei, iludi, andei com as mais lindas mulheres , vesti as melhores roupa, tive os melhores carros, tive fazendas, bois ,vacas,bezerros e todos os outros seres humanos me respeitava e obedeciam. E continuava: tinha relógio rolex – aleluia,pratiquei sexo todos os dias não livrando nem a cara das empregadas – aleluia, e por fim olhou para todos e com uma cara triste disse: eu era feliz e não sabia. Quantas saudades tenho de tudo isso !
Depois desses comentários , devido talvez ao período natalino onde todos comemoram, compram bacalhaus, vinhos, perus, doces, iguarias , brindam a tudo e se esquecem que a data se refere ao aniversário do nascimento do menino Jesus e poucos se dão conta do fato, minhas lembranças me levam a um crime que ocorreu aqui no Brasil ou melhor, dois crimes bárbaros que . Um praticado por uma pessoa insana que por ciúmes do amante matou a filhinha deste com estigma de crueldade e ficou conhecida como A fera da Penha; o outro o de uma linda criança do sexo feminino de nome Aracelli, moradora à época em Brasília, capital do Distrito Federal, que foi cruelmente assassinada por jóvens da classe alta, gente rica, e dizem que contou com o envolvimento do filho de um político daquela época e que veio a seguir a carreira do pai.
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra..Na outra estória o praticante do evangelho renegou sua fé na religião que acabara de ingressar. Nessa estorinha de agora, crime hediondos foram cometidos, qual a relação ?
Digo que tem tudo a ver pois ambos os finais nos levam a um ponto comum que é o sentimento de saudades. Inocêncio sentiu saudades daquela vida mundana e eu senti saudades do sentimento de revolta que todos tivemos ao sabermos, à época , dos crimes cometidos, uma barbárie na verdade. São tempos que não voltam mais. Aqueles crimes foram considerados hediondos. Hoje qualquer marginalzinho de doze ou treze anos já cometeu crimes de maior gravidade e simplesmente são amparados pelo Eca (Estatuto da criança e do adolescente) e se não pelas leis dúbias que se proliferam no dia a dia no nosso país e pelo próprio ministério público.
A violência cresceu vertiginosamente daqueles tempos para cá e avança cada vez mais e cada vez mais também são as falácias dos verdadeiros responsáveis pela reprimenda a esses crimes. Nessa época em que ocorreram esses crimes, era esse o momento oportuno para se estripar e punir exemplarmente tais atitude, mas não o fez, e deu-se início à barbárie.
Hoje funestamente podemos afirmar que casos como o da Fera da Penha, da criança Aracelli, se se repetirem neste momento, não daremos a mínima importância porque
já estamos ungidos pela barbárie e o abandono em que se encontra esse Brasil varonil. E que só ele, o aniversariante, poderá um dia reverter esse quadro de tantas atrocidades. No momento nossas autoridades estão como cegos em tiroteio - perdidas.
Mas é natal, esqueçamos todas essas mazelas, esqueçamos que nosso país amado vive uma crise moral de estar bem próximo de ser o último do mundo em distribuição de renda, primeiro em analfabetismo, desemprego, falta de segurança, caos na saúde pública e que vergonhosamente somos os primeiros, também, em corrupção malversação dos bens públicos, superfaturamentos, tudo isso praticado por aqueles que com promessas de representatividade honesta legislam sempre e cada vez mais demagogicamente em causa própria. Esqueçamos e ao nos dirigirmos a Ele nesse natal, ao reverenciá-lo, possamos ao menos dizer: pai SOCORRO. Eles não sabem o que fazem, Ou será que sabem?
Infelizmente, como uma praga, uma doença contagiosa, um vírus, a desonestidade se espalha por todas as classes sociais, até entre mendigos, pedintes, moradores de rua, ao invés de solidariedade existe a disputa de território por um pedacinho de solo onde possa vir a se deitar e passar uma noite de frio uma noite de natal.
A proliferação do enriquecimento usando o nome do aniversariante é algo de inimaginável; foi o mais rico filão de ouro que a mente espertas dos mercadores possas ater concebido. Será que são os sais da terra?
O natal mais uma vez se aproxima cheio de comemorações, mas tenho certeza que desastres automobilísticos, crimes passionais, roubos homéricos, roubos de colarinhos e outras tantas atrocidades ocorrerão e infelizmente não nos daremos conta de que assim como ou pouco de nós o aniversariante está decepcionado e triste, mas eles, os que deveriam estar mais tristes dormirão em berço esplêndido toda essa noite de natal. Depois disso tudo só me resta desejar a todos um feliz natal, de coração aberto, e não somente da boca para fora.
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