17 maio, 2008

OPINIÃO DE UM VELHO MARINHEIRO


Há vários dias não encontro meu amigo predileto, com o qual mantenho longas conversas para mim proveitosas, mesmo porque algumas vezes fico sensibilizado com suas narrativas e tantas outras, em dúvida quanto à credibilidade. É claro que estou me referindo ao Cabo de Esquadra reformado o Sr. Cabo Jeremias.
De repente, como se tivesse lido meus pensamentos, surge o aludido militar, homem de idade um pouco avançada, porém com uma compleição física invejável, descontando a musculatura visceral que deixa transparecer uma certa proeminência na região abdominal, acompanhado daquele sorriso de aposentado bem remunerado.,
Só que desta feita nosso militar tinha o aspecto de quem havia chorado e aparentava uma tristeza incomum para um homem de sua fibra. Ao ver o amigo naquele estado depressivo, logo após os primeiros cumprimentos , sutilmente entabulei uma conversa que, propositadamente, resultou na indagação do porquê de tanta tristeza. O aumento parcelado com vultuosas parcelas de até 4% que o governo recentemente alegou que vai agraciar o soldo dos militares lhe deixou nesse estado ? Não esperava por tudo isso ? Indaguei ! Aliás, não é verdade também que militar não deve reinvindica aumento de soldo e sim querem ter apenas a felicidade de servir à pátria. Assim pensei e assim perguntei ao nosso compatriota e para minha surpresa a resposta foi um penoso não. É claro, disse cabo Jeremias, que esse processo de negociação que mais parecia obra de igreja, envolvendo o salário dos militares enervou até os post-mortem como Barroso , Tamandaré, Grenhal, Tenente Possolo, Guarda marinha Taylor, Marcílio Dias e sem exageros acho que mortificou até Pedro Álvares Cabral . O que me comove no momento, relatou o militar, é o caso dessa família Nardoni/Jatobá. É todo mundo pedindo a cabeça do casal. São argumentos fortuitos a comprovarem através de várias evidências que eles são culpados. Tudo leva a crer que foram eles mas fico pensando em certos ditos populares, tais como: nem tudo que reluz é ouro – nem tudo que balança cai – quem vê cara não vê coração, e vai por aí a fora.
Lembro-me de um caso acontecido na Marinha tempos atrás. Nessa época , diz Jeremias, eu era um grumete, ou seja, um recruta e prestava o serviço militar em uma repartição em terra.Trabalhava em um gabinete servindo a autoridade de alta patente.
Num determinado dia, para uma audiência com a autoridade, adentrou um militar com patente de oficial subalterno. Olhei para aquele homem e me deu pena ver um oficial com aspecto tão triste (naquele tempo não conhecia o que era uma deprê. Se o sujeito chorasse ou vivesse pelos cantos dizia-se que era frescura) e com uma idade que por força da carreira militar já deveria ser um Almirante (os Almirantes naquela época eram homens idosos com quarenta ou cinqüenta anos de serviços; hoje se atinge tal posto mais cedo, acredito.).
Imaginei muitas coisas que poderiam ter acontecido àquele oficial tão triste, tão desgostoso, tão envelhecido, cabisbaixo e com um olhar de quem pedia piedade.
Uns dois meses depois, o mesmo oficial adentrava mais uma vez no recinto em que eu trabalhava e para meu espanto os galões que estavam em seus ombros indicavam uma patente próxima à de um Almirante.
Fiquei curioso com o fato e comentando com colegas de trabalho, soube o seguinte: aquele oficial, no início de sua carreira militar, ainda como segundo tenente, servira em um dos navios da Marinha de Guerra e tinha a função de Tesoureiro, sendo responsável pelo pagamento dos soldos da tripulação, que era efetuado em espécie. Antigamente o pagamento era realizado no chamado boca do cofre. Você recebia sua remuneração integralmente, sem faltar um centavo. Hoje não, é tudo mais prático e você recebe através de uma conta bancária que devido a muitas artimanhas lhe suga algumas quantias com a aquiescência daqueles em quem você votou para acabar com essa safadeza.
O oficial recebia o numerário de determinado setor e repasssava à tripulação distribuindo as quantias em envelopes lacrados.
Num certo e fatídico dia, todo o numerário que estava sob sua responsabilidade desapareceu do cofre que somente ele conhecia o segredo e portava as chaves.
Houve inquérito e todos os indícios do crime apontava para ele. Depois do inquérito o processo foi instaurado na Justiça Militar e a condenação de muitos anos de prisão, a humilhação, a execração pública, a vergonha, o mar de lama apontava para um único réu, o nosso segundo tenente.
Foram muitos interrogatórios, ameaças, e quem sabe até torturas e o jovem que sonhava e se esforçava para ter um futuro brilhante; que sonhara em dar o melhor de si pela sua pátria, ali se encontrava sendo acusado de algo que não admitia ter praticado. Exames periciais foram feitos; laudos técnicos produzidos, impressões digitais foram colhidas; busca em todos os recantos do navio, em sua residência; seus parentes mais próximos e amigos vigiados e nenhuma pista surgiu que lhe fosse favorável. Com tantas suspeitas contra si, viu-se envolto num turbilhão de acusações onde as pessoas que lhe eram mais próximas começaram a hostilizá-lo e a condená-lo sem piedade, sem clemência. Ele se tornara um ladrão e tal palavra naquela época tinha um significado muito forte. Ladrão era ladrão – tanto fazia roubar um tostão quanto um milhão, era ladrão. Hoje o que vemos é que se roubar um tostão é ladrão, porém, se roubar um milhão é colarinho branco e pode processar seu denunciante e no final ainda é premiado com cargos que realmente deveriam ser ocupados por pessoas decentes.
Para não nos estendermos mais, o amigo deve imaginar o quanto foi humilhado aquele jovem e como deve ter sofrido; todos o condenaram, até seus mais íntimos amigos e familiares.
Os anos passaram com rapidez para os que estavam em liberdade mais para aqueles com restrições de seu ir e vir a lentidão deve ser mortal.
Muitos anos se passaram e em um determinado dia um elemento foi preso por pequenos furtos. Por não ser fichado na polícia, uma determinada autoridade policial com vasta experiência resolveu fazer um levantamento da vida do marginal e acredito ter usado métodos persuasivos (era uma autoridade que se empenhava em aplicar o método de tortura nunca mais) e com bom senso o meliante concordou pacificamente em historiar sua carreira à margem da sociedade começando pelo seu primeiro delito que indicou o seguinte: sua vida delituosa se iniciou quando era marinheiro e servia a bordo de um navio da Marinha de Guerra,quando em um determinado dia ao passar em frente a um dos camarotes dos oficiais notou que um cofre estava semi-aberto e continha bastante dinheiro dentro dele. Ele furtou todo o numerário escondendo-o em local difícil de encontrar. Quando a situação voltou ao normal e o suposto ladrão, que fora o oficial, preso, sendo época de seu encerramento de tempo de serviço, pediu licenciamento do serviço ativo e se escafedeu pelo mundo afora a gastar todo o dinheiro. Viveu dias de mil e uma noites enquanto o jovem inocente oficial amargava a prisão, humilhações, o desprezo da sociedade, apodrecendo sua células nas celas de vários presídios, etc. Creio não ser necessário descrever tal sofrimento pois por imaginação todos nós podemos deduzir como se passam essas coisas.
De posse das informações obtidas através do elemento, a autoridade, usando do bom senso comum existente entre os policiais de um modo geral, comunicou o fato às autoridades de Informação da Marinha que de imediato descobriram de que se tratava e justiça, embora tardia pelas circunstâncias, foram tomadas e o jovem agora um velho oficial foi readmitido nas fileiras da Marinha e todos seus direitos foram garantidos.
Depois de saber da injustiça que sofrera aquele oficial foi que pude entender o quanto suas feições apresentavam tanto abatimento, tanto sofrimento.
Felizmente o mal, embora tardio, foi reparado.
Até que se prove o contrário, todos são inocentes perante a lei. Hoje ao assistirmos a qualquer noticiário o que vemos é o caso da menina supostamente assassinada pelo pai ou pela madrasta ou por ambos
Perícias foram feitas, reconstituições, interrogatórios, testes científicos e conclusões unânimes: foram eles. Aí pergunto: um casal de classe média alta, nível de estudo superior ou beirando o mesmo, um casal jovem, inteligente, não usuários de qualquer tipo de drogas, iria provocar um farsa dessa natureza para justificar um provável acidente familiar ? Qual pai faria ou deixaria jogar o corpo de sua filha através de uma janela de uma determinada altura para justificar um provável acidente ?
Cheguei a pensar que a criança poderia ter sofrido uma agressão física vindo a ficar desfalecida dentro do carro. Se assim fosse, creio que eles teriam ido imediatamente a um pronto socorro relatando qualquer tipo de acidente, até mesmo uma freiada brusca ocasionando lesões à criança. Mas não o que se deduz é que montaram um cenário de filme enigmático próprio dos enredos romancista de Aghata Cristie. Por que ? Ficaram doidos ? Se podiam bolar um álibi mais simples, por que tanta artimanha ? Parece-me um plano arquitetado com fineza e frieza de detalhes para ser posto em prática assim de um momento para outro.
Acho que um casal jovem e inteligente jamais jogaria uma criança, mesmo não sendo sua, de uma determinada altura para se livrar não se sabe lá do quê.
Estamos vivendo num mundo cheio de surpresas e a manifestação de indignação da população, insuflada de certo modo pelo sensacionalismo da mídia, cria um clima de revolta coletiva. Uma comoção exacerbada. Não seria hora da gente se colocar no lugar daquele casal e nos solidarizar-mos com suas dores ? Até que ouçamos de suas próprias bocas que cometeram tal crime, não devemos condená-los, pois muita coisa existe entre o céu e a terra que o homem não tem ainda a capacidade de percebê-la. O melhor será, acredito, esperarmos, pois não existe crime perfeito e sim mal investigado. Um dia a verdade prevalecerá e aí sim poderemos afirmar se foi o casal ou se de alguma maneira, a mais misteriosa possível o assassinato partiu de uma mente ou entidade maléfica e aí tudo por certo se esclarecerá. Não devemos atirar a primeira pedra para não correr o risco de atingir o alvo errado .
Minha comoção, diz Jeremias, decorre de dois fatores: um fator é a inocência do casal que para a justiça dos homens está sendo impossível de acreditar e o outro fator é que se foi realmente algum deles ou os dois os criminosos, a humanidade acaba de atingir seu ponto crítico de degradação, pois assim sendo, maiores atrocidades estarão por vir.
Estarrecido com o relato do velho marinheiro e observando aquele semblante que transpirava piedade e compreensão, cada vez mais confuso nas inclinações a que partido tomar, ou seja da inocência ou da culpabilidade do casal, apenas emudeço.
Encerramos nossa entrevista e segui pensativo e comovido imaginando mil maneiras de com o ocorrera o fato delituoso e fatídico e uma pergunta não me deixa calar: será que não foram eles ? Só me resta a opção de perguntar ao amigo leitor: e você o que acha que aconteceu naquela fatídica noite ?
E aquela estória do oficial, será que é verdadeira ou não passa de invencionisce ou esperteza de nosso estimado militar.
É melhor darmos um tempo, pois o tempo é e sempre será o melhor Juiz e roguemos a Deus pela alma daquela linda criança.

O TEMPO


O tempo é implacável; não volta mais. É como a correnteza de um rio, não para. E de repente você sente como se fosse ontem que todos os fatos aconteceram. Seus cabelos começam a rarear e alguém maldosamente já se refere a você como o" pouca telha, o aeroporto de mosquitos o cabeça de ovo" e outras cabeças. Seu andar já não tem aquela firmeza de outrora e seus entes queridos ao lhe verem se levantar pela primeira vez no dia, dizem em tom de gracejo: é o Robocop. Seu hálito não exala mais aquele odor delicioso do passado, tão perfumado, o verdadeiro cheiro de rosas, e até sua fiel companheira de jornada, quando você lhe diz: bom dia! Ela lhe olha com espanto e indaga: comeu urubu ? E você humildemente lhe informa: é que ainda não escovei a dentadura. Aí ela faz um muxoxo e virando-lhe as costas sai dizendo: Aí nem formol. Se você fica de cuecas na frente de um jovem ele nunca imagina o quanto foi esbelto, ombros musculosos, barriga de tanquinho, bíceps arredondados, glúteos rígidos, coxas rígidas, pernas alongadas e grossas, e hoje seus ombros caídos, uma proeminência no lugar do que fora antes o abdome, flacidez dos bíceps, bunda mole, coxas pelancudas, pernas finas e arqueadas, um jovem por certo dirá parece um caçote ou mesmo um girino grande.
No início essas coisas eram ditas em tom jocoso mais com o convívio diário e o passar dos tempos foram se consolidado como verdadeiras.
Seu esfíncter antes rijo, hoje está todo frouxo e vez por outra ao tentar impingir uma pressão maior para expelir gases, você termina se cagando. O bráulio, aquele gladiador, dorme em berço esplêndido e alguém ao se referir a ele, não para gloarificar um passado heróico, mais para reverenciá-lo através de canções, como uma música em ritmo de forró que diz: acorda falecida, acorda falecida; não me deixe na mão, me dê um sinal de vida.
Aquele tórax largo hoje estreitou. As pernas antes meio grossas, hoje parecem uns cambitos. O olhar altivo hoje parece mais o de um peixe boi. As unhas dos pés ficaram tão deformadas que só com tesoura de aparar grama podem ser aparadas. Seu rosto macio, liso, imberbe, se transformou num maracujá de gaveta. Suas mãos firmes que na privacidade dos banheiros tantos prazeres e fantasias lhe ajudaram a ter, hoje trêmulas não conseguem nem mesmo limpar direito as nádegas após o despejo de mais um arubu desodorizado e lhe vem à mente saudosamente aqueles momentos encantados em que gritava : mãe, acabei! Os dentes, estes sim, estão conservados – alguns – Quando se tem o de cima não se tem o de baixo e vice-versa, mas a natureza é sábia e suas gengivas endurecidas corta até solado de sapato. Sua voz antes estereofônica, romântica, grave, hoje mais parece voz de gralha, do Tiririca. Suas nádegas lisas, redondas,protuberantes, hoje está cheia de brotoejas, coceiras, cravos e espinha que mais parece o mapa da palestina.
Tudo no seu humor parece estranho inaceitável; o comportamental difere dos padrões que recebeu e tudo é objeto de crítica de insatisfação. É aquela criança que vai se fazer um agrado por estar chorando e ela vai logo dizendo : otário, não te conheço, você e bicha, sua mãe é puta, seu pai é corno, sai de perto de mim bundão. É o progresso, foi assim que caminhou a humanidade, é o aperfeiçoamento da civilização. As mulheares quase nuas na rua e nem baba mais cai da sua boca. Pais criando suas filhas como se estivessem no pasto, na engorda, para um dia eles as possuírem sexualmente. Homens musculosos falando com trejeitos de mulherzinhas. Filhos e filhas baixando o cacete em pais e mães. Mulheres ciumentas cheirando as cuecas dos maridos para descobrirem se estão sendo traídas e por trás dos panos metendo pares e mais pares de chifres nos abestalhados. A permissividade sexual está no topo da sacanagem. A roubalheira é
a melhor do planeta. Tem cartões corporativos pra todos os lados. Tudo está de ponta cabeça. E você que foi fiel a tudo e a todos, que nunca se envolveu em falcatruas e viveu pobre e honestamente, hoje vê-se desprezado pelos seus, encostado num pensionato e aquela mulher ali na sua frente com uma palmatória e um prato de comida lhe dizendo engula tudo ou entra no pau, faz com que você repense se valeu realmente a pena e esforçando-se para lhe enviar um sorriso, pensará: agora é a minha vez mais amanhã com certeza será a sua, sua filha da puta. E irá dormir cansado mais com o sentimento, de que fez o que pode, fez o seu melhor.

Sonho ou Pesadelo


Talvez seja o peso da idade, mais ultimamente venho sentindo um cansaço que me parece não ser físico e sim mental. Durmo e sonhos estranhos me afloram, acho que de meu inconsciente e quando acordo quase sempre esqueço o que sonhei. Ontem, foi assim.
Sonhei que ao visitar um país estrangeiro e como em sonho tudo é possível, acompanhava-me um sincerone daquele país que fazia a todo momento esplanações de tudo que se passava ao nosso redor. Não recordo o nome do país mais lembro das informações: era um país de dimensões continentais, muito populoso, com muitas leis benéficas ao povo em geral. Se você fosse pobre e roubasse algum alimento, para se alimentar ou a um de seus entes queridos, na teoria, seria perdoado através de um artigo da Lei (furtos fomélicos), mais com certeza alguma autoridade acharia que quem furta um tostão, furta um milhão, e o infrator receberia uma boa prisão, mesmo porque, policiais zelosos de suas funções, já teriam aplicado uma boa sova ao meliante.
Ao mesmo tempo, pessoas que se envolvessem em qualquer tipo de patifaria, tais quais mensalão, cartões corporativos, compra de votos, malversação de dinheiro público, super faturamento em licitações, contrabandistas, traficantes de alta periculosidade, parlamentares os mais corruptos possíveis, estes sim, dependendo de sua posição sócio-financeira responderiam aos processos em liberdade, sob o manto cuidadoso da justiça e lhes são garantidos entre muitos direitos o de processarem criminalmente a algum pobre coitado ou desavisado jornalista que por azar venha a insinuar qualquer tipo de comentário que o elemento tenha tido, mesmo que se trate de um comentário verdadeiro. Esse país tem uma população muito festeira, porém, por haver uma distribuição de renda das mais pervessas do mundo, a maioria, talvez por falta de emprego, como também por malandragem, preferem a vida de furtos e tantas outras falcatruas. O Estado não alisa couro de pecador e quando o sujeito é pego com a boca na botija, se pobre, vai para o xilindró. Os que têm dinheiro ou posição social, às vezes morre de velhice e nunca são julgados. Os advogados arquitetam tantas artimanhas que no final acaba o Estado indenizando o corrupto. Os pobres diabos infratores, estes sim, são trancafiados em celas confortáveis na visão dos governantes e numa minúscula cela onde caberiam dez apenados, são alojados quarenta a cinqüenta elementos. Nesse país a moda carcerária do momento é colocar uma criança ou adolescente do sexo feminino trancada em uma sela com vinte, trinta, quarenta marginais do sexo masculino e as autoridades judiciárias, as mais bem pagas do mundo, nada fazem a respeito, a não ser as falácias de sempre. Nesse país o funcionário público nunca chega ao seu trabalho na hora certa. Se alguém achar ruim eles mostram logo a plaquetinha: ofender ou desacatar funcionário, pena de seis messes a um ano. Esse país do meu sonho ou pesadelo tem uma população numerosa de pessoas de pele escura mais se você disser que essa pessoa é negra, crioula, chiclete de onça, tição e outras, ainda que seja num momento de descontrole emocional, você está sujeito a ir para a cadeia e pagar indenização por danos morais. Tem que ser educado e se referir ao seu irmão de cor com termos afro-descendente, afro-brasileiro, moreninho, da cor, e com muito paparico. Chame de veado, puto, côrno mais não chame de negão advertiu-me meu guia. Tem uma Lei nesse país muito interessante: se você mata um pai de família vai preso, paga fiança e responde ao processo em liberdade. Matou um passarinho fica preso incomunicável. Armas aqui só para a polícia e bandido. Cidadão comum, não. Se um cidadão comum reagir a um assalto e machucar um bandido é preso e os Direitos Humanos se encarregam de proteger a vítima, ou seja, o indefeso bandido. O meliante, o cidadão de bem que maldosamente se defendeu deve ir para o xilindró. Portadores de doenças graves, se pobres, necessitam entrar na justiça. Para que possam receber tratamento médico adequado. Normalmente morrem antes de iniciar o tratamento devido à morosidade no encaminhamento do processo. Donos de terra, se não contratarem jagunços armados para proteger seus terrenos, terão suas terras , quando não invadidas, estrupiadas, plantações destruídas e gados abatidos pelos sem terra invasores, com o apoio das autoridades que são benevolentes com esse tipo de coisas.A imprensa desse país até que tenta denunciar ao público algumas irregularidades mais volta e meia estão se vendo envoltas em processos indenizatórios por danos morais e mais cedo ou mais tarde os poderosos com certeza irão criar uma Lei chamada Mordaça que proibirá o jornalista de publicar fatos desonestos cometidos por autoridades e seus protegidos. Lamentava o fato, meu orientador, do país cobrar tantos impostos do povo; acredita ele que um dia esse povo pacífico vai acordar e dar um grande grito contra tanta cobrança nos minguados salários deles e acrescentou que os pequenos são perseguidos e têm seus bens seqüestrados ou tomados em aresto pelo Estado.Os grandes devedores, principalmente se for autoridade coloca-se panos quentes e as facilidades ilegais continuam entra ano, sai ano, entra dirigente, sai dirigente.
Depois de ver, em sonho, o desmantelo daquele que poderia ser um grande país, uma grande nação, não fosse o descaso, a incompetência, a mão leve de alguns dirigentes, comecei a ver tumultos. Pessoas fardadas tentando arrombar um supermercado, portando cada uma um penico na mão e curioso perguntei: de que se trata ? Quem são? Respondeu-me o guia: é a classe militar se revoltando por melhoria salarial pois em relação ao salário mínimo do país estão muito defasados e seus chefes civis aos quais são subordinados esses militares não lhes acenam com qualquer melhoria porque não gostam de comparações; dizem a toda hora que se não estão satisfeitos que saiam e vão pousar de galo noutro galinheiro. Achei isso um ultraje, mesmo não pertencendo a esse país do sonho. De repente houve uma grande explosão e despertei nesse exato momento, suado, respiração ofegante, ainda assustado e me lembrava apenas de parte do sonho-pesadelo. Foi quando percebi que a explosão havia sido o barulho do motor do fusquinha 72 de meu vizinho que se preparava para mais um dia de labuta.Respirei aliviado e agradeci aos céus por ter acordado e nunca ter vivido num país assim tão sem esperança. Não sei se existe por aí afora, nesse mundo de meu Deus, país semelhante àquele do sonho. Se existe que Deus olhe muito por esses condenados e que um dia esse mesmo país venha a se tornar um paraíso como é o nosso Brasil com autoridades íntegras e o povo de uma honestidade incomum. Um povo competente, trabalhador, honesto e que tem uma das maiores virtudes que é a de saber escolher seus dirigentes através do sufrágio universal, o voto direto. Hoje ao me deitar, vou fazê-lo com muita cautela, orando com mais fervor para que nunca mais sonhe com tanta atrocidade. Recomendo a todos para que orem também a fim de que continuemos no caminho do bem que sempre trilhemos. Nós e as autoridades.