Há vários dias não encontro meu amigo predileto, com o qual mantenho longas conversas para mim proveitosas, mesmo porque algumas vezes fico sensibilizado com suas narrativas e tantas outras, em dúvida quanto à credibilidade. É claro que estou me referindo ao Cabo de Esquadra reformado o Sr. Cabo Jeremias.
De repente, como se tivesse lido meus pensamentos, surge o aludido militar, homem de idade um pouco avançada, porém com uma compleição física invejável, descontando a musculatura visceral que deixa transparecer uma certa proeminência na região abdominal, acompanhado daquele sorriso de aposentado bem remunerado.,
Só que desta feita nosso militar tinha o aspecto de quem havia chorado e aparentava uma tristeza incomum para um homem de sua fibra. Ao ver o amigo naquele estado depressivo, logo após os primeiros cumprimentos , sutilmente entabulei uma conversa que, propositadamente, resultou na indagação do porquê de tanta tristeza. O aumento parcelado com vultuosas parcelas de até 4% que o governo recentemente alegou que vai agraciar o soldo dos militares lhe deixou nesse estado ? Não esperava por tudo isso ? Indaguei ! Aliás, não é verdade também que militar não deve reinvindica aumento de soldo e sim querem ter apenas a felicidade de servir à pátria. Assim pensei e assim perguntei ao nosso compatriota e para minha surpresa a resposta foi um penoso não. É claro, disse cabo Jeremias, que esse processo de negociação que mais parecia obra de igreja, envolvendo o salário dos militares enervou até os post-mortem como Barroso , Tamandaré, Grenhal, Tenente Possolo, Guarda marinha Taylor, Marcílio Dias e sem exageros acho que mortificou até Pedro Álvares Cabral . O que me comove no momento, relatou o militar, é o caso dessa família Nardoni/Jatobá. É todo mundo pedindo a cabeça do casal. São argumentos fortuitos a comprovarem através de várias evidências que eles são culpados. Tudo leva a crer que foram eles mas fico pensando em certos ditos populares, tais como: nem tudo que reluz é ouro – nem tudo que balança cai – quem vê cara não vê coração, e vai por aí a fora.
Lembro-me de um caso acontecido na Marinha tempos atrás. Nessa época , diz Jeremias, eu era um grumete, ou seja, um recruta e prestava o serviço militar em uma repartição em terra.Trabalhava em um gabinete servindo a autoridade de alta patente.
Num determinado dia, para uma audiência com a autoridade, adentrou um militar com patente de oficial subalterno. Olhei para aquele homem e me deu pena ver um oficial com aspecto tão triste (naquele tempo não conhecia o que era uma deprê. Se o sujeito chorasse ou vivesse pelos cantos dizia-se que era frescura) e com uma idade que por força da carreira militar já deveria ser um Almirante (os Almirantes naquela época eram homens idosos com quarenta ou cinqüenta anos de serviços; hoje se atinge tal posto mais cedo, acredito.).
Imaginei muitas coisas que poderiam ter acontecido àquele oficial tão triste, tão desgostoso, tão envelhecido, cabisbaixo e com um olhar de quem pedia piedade.
Uns dois meses depois, o mesmo oficial adentrava mais uma vez no recinto em que eu trabalhava e para meu espanto os galões que estavam em seus ombros indicavam uma patente próxima à de um Almirante.
Fiquei curioso com o fato e comentando com colegas de trabalho, soube o seguinte: aquele oficial, no início de sua carreira militar, ainda como segundo tenente, servira em um dos navios da Marinha de Guerra e tinha a função de Tesoureiro, sendo responsável pelo pagamento dos soldos da tripulação, que era efetuado em espécie. Antigamente o pagamento era realizado no chamado boca do cofre. Você recebia sua remuneração integralmente, sem faltar um centavo. Hoje não, é tudo mais prático e você recebe através de uma conta bancária que devido a muitas artimanhas lhe suga algumas quantias com a aquiescência daqueles em quem você votou para acabar com essa safadeza.
O oficial recebia o numerário de determinado setor e repasssava à tripulação distribuindo as quantias em envelopes lacrados.
Num certo e fatídico dia, todo o numerário que estava sob sua responsabilidade desapareceu do cofre que somente ele conhecia o segredo e portava as chaves.
Houve inquérito e todos os indícios do crime apontava para ele. Depois do inquérito o processo foi instaurado na Justiça Militar e a condenação de muitos anos de prisão, a humilhação, a execração pública, a vergonha, o mar de lama apontava para um único réu, o nosso segundo tenente.
Foram muitos interrogatórios, ameaças, e quem sabe até torturas e o jovem que sonhava e se esforçava para ter um futuro brilhante; que sonhara em dar o melhor de si pela sua pátria, ali se encontrava sendo acusado de algo que não admitia ter praticado. Exames periciais foram feitos; laudos técnicos produzidos, impressões digitais foram colhidas; busca em todos os recantos do navio, em sua residência; seus parentes mais próximos e amigos vigiados e nenhuma pista surgiu que lhe fosse favorável. Com tantas suspeitas contra si, viu-se envolto num turbilhão de acusações onde as pessoas que lhe eram mais próximas começaram a hostilizá-lo e a condená-lo sem piedade, sem clemência. Ele se tornara um ladrão e tal palavra naquela época tinha um significado muito forte. Ladrão era ladrão – tanto fazia roubar um tostão quanto um milhão, era ladrão. Hoje o que vemos é que se roubar um tostão é ladrão, porém, se roubar um milhão é colarinho branco e pode processar seu denunciante e no final ainda é premiado com cargos que realmente deveriam ser ocupados por pessoas decentes.
Para não nos estendermos mais, o amigo deve imaginar o quanto foi humilhado aquele jovem e como deve ter sofrido; todos o condenaram, até seus mais íntimos amigos e familiares.
Os anos passaram com rapidez para os que estavam em liberdade mais para aqueles com restrições de seu ir e vir a lentidão deve ser mortal.
Muitos anos se passaram e em um determinado dia um elemento foi preso por pequenos furtos. Por não ser fichado na polícia, uma determinada autoridade policial com vasta experiência resolveu fazer um levantamento da vida do marginal e acredito ter usado métodos persuasivos (era uma autoridade que se empenhava em aplicar o método de tortura nunca mais) e com bom senso o meliante concordou pacificamente em historiar sua carreira à margem da sociedade começando pelo seu primeiro delito que indicou o seguinte: sua vida delituosa se iniciou quando era marinheiro e servia a bordo de um navio da Marinha de Guerra,quando em um determinado dia ao passar em frente a um dos camarotes dos oficiais notou que um cofre estava semi-aberto e continha bastante dinheiro dentro dele. Ele furtou todo o numerário escondendo-o em local difícil de encontrar. Quando a situação voltou ao normal e o suposto ladrão, que fora o oficial, preso, sendo época de seu encerramento de tempo de serviço, pediu licenciamento do serviço ativo e se escafedeu pelo mundo afora a gastar todo o dinheiro. Viveu dias de mil e uma noites enquanto o jovem inocente oficial amargava a prisão, humilhações, o desprezo da sociedade, apodrecendo sua células nas celas de vários presídios, etc. Creio não ser necessário descrever tal sofrimento pois por imaginação todos nós podemos deduzir como se passam essas coisas.
De posse das informações obtidas através do elemento, a autoridade, usando do bom senso comum existente entre os policiais de um modo geral, comunicou o fato às autoridades de Informação da Marinha que de imediato descobriram de que se tratava e justiça, embora tardia pelas circunstâncias, foram tomadas e o jovem agora um velho oficial foi readmitido nas fileiras da Marinha e todos seus direitos foram garantidos.
Depois de saber da injustiça que sofrera aquele oficial foi que pude entender o quanto suas feições apresentavam tanto abatimento, tanto sofrimento.
Felizmente o mal, embora tardio, foi reparado.
Até que se prove o contrário, todos são inocentes perante a lei. Hoje ao assistirmos a qualquer noticiário o que vemos é o caso da menina supostamente assassinada pelo pai ou pela madrasta ou por ambos
Perícias foram feitas, reconstituições, interrogatórios, testes científicos e conclusões unânimes: foram eles. Aí pergunto: um casal de classe média alta, nível de estudo superior ou beirando o mesmo, um casal jovem, inteligente, não usuários de qualquer tipo de drogas, iria provocar um farsa dessa natureza para justificar um provável acidente familiar ? Qual pai faria ou deixaria jogar o corpo de sua filha através de uma janela de uma determinada altura para justificar um provável acidente ?
Cheguei a pensar que a criança poderia ter sofrido uma agressão física vindo a ficar desfalecida dentro do carro. Se assim fosse, creio que eles teriam ido imediatamente a um pronto socorro relatando qualquer tipo de acidente, até mesmo uma freiada brusca ocasionando lesões à criança. Mas não o que se deduz é que montaram um cenário de filme enigmático próprio dos enredos romancista de Aghata Cristie. Por que ? Ficaram doidos ? Se podiam bolar um álibi mais simples, por que tanta artimanha ? Parece-me um plano arquitetado com fineza e frieza de detalhes para ser posto em prática assim de um momento para outro.
Acho que um casal jovem e inteligente jamais jogaria uma criança, mesmo não sendo sua, de uma determinada altura para se livrar não se sabe lá do quê.
Estamos vivendo num mundo cheio de surpresas e a manifestação de indignação da população, insuflada de certo modo pelo sensacionalismo da mídia, cria um clima de revolta coletiva. Uma comoção exacerbada. Não seria hora da gente se colocar no lugar daquele casal e nos solidarizar-mos com suas dores ? Até que ouçamos de suas próprias bocas que cometeram tal crime, não devemos condená-los, pois muita coisa existe entre o céu e a terra que o homem não tem ainda a capacidade de percebê-la. O melhor será, acredito, esperarmos, pois não existe crime perfeito e sim mal investigado. Um dia a verdade prevalecerá e aí sim poderemos afirmar se foi o casal ou se de alguma maneira, a mais misteriosa possível o assassinato partiu de uma mente ou entidade maléfica e aí tudo por certo se esclarecerá. Não devemos atirar a primeira pedra para não correr o risco de atingir o alvo errado .
Minha comoção, diz Jeremias, decorre de dois fatores: um fator é a inocência do casal que para a justiça dos homens está sendo impossível de acreditar e o outro fator é que se foi realmente algum deles ou os dois os criminosos, a humanidade acaba de atingir seu ponto crítico de degradação, pois assim sendo, maiores atrocidades estarão por vir.
Estarrecido com o relato do velho marinheiro e observando aquele semblante que transpirava piedade e compreensão, cada vez mais confuso nas inclinações a que partido tomar, ou seja da inocência ou da culpabilidade do casal, apenas emudeço.
Encerramos nossa entrevista e segui pensativo e comovido imaginando mil maneiras de com o ocorrera o fato delituoso e fatídico e uma pergunta não me deixa calar: será que não foram eles ? Só me resta a opção de perguntar ao amigo leitor: e você o que acha que aconteceu naquela fatídica noite ?
E aquela estória do oficial, será que é verdadeira ou não passa de invencionisce ou esperteza de nosso estimado militar.
É melhor darmos um tempo, pois o tempo é e sempre será o melhor Juiz e roguemos a Deus pela alma daquela linda criança.
De repente, como se tivesse lido meus pensamentos, surge o aludido militar, homem de idade um pouco avançada, porém com uma compleição física invejável, descontando a musculatura visceral que deixa transparecer uma certa proeminência na região abdominal, acompanhado daquele sorriso de aposentado bem remunerado.,
Só que desta feita nosso militar tinha o aspecto de quem havia chorado e aparentava uma tristeza incomum para um homem de sua fibra. Ao ver o amigo naquele estado depressivo, logo após os primeiros cumprimentos , sutilmente entabulei uma conversa que, propositadamente, resultou na indagação do porquê de tanta tristeza. O aumento parcelado com vultuosas parcelas de até 4% que o governo recentemente alegou que vai agraciar o soldo dos militares lhe deixou nesse estado ? Não esperava por tudo isso ? Indaguei ! Aliás, não é verdade também que militar não deve reinvindica aumento de soldo e sim querem ter apenas a felicidade de servir à pátria. Assim pensei e assim perguntei ao nosso compatriota e para minha surpresa a resposta foi um penoso não. É claro, disse cabo Jeremias, que esse processo de negociação que mais parecia obra de igreja, envolvendo o salário dos militares enervou até os post-mortem como Barroso , Tamandaré, Grenhal, Tenente Possolo, Guarda marinha Taylor, Marcílio Dias e sem exageros acho que mortificou até Pedro Álvares Cabral . O que me comove no momento, relatou o militar, é o caso dessa família Nardoni/Jatobá. É todo mundo pedindo a cabeça do casal. São argumentos fortuitos a comprovarem através de várias evidências que eles são culpados. Tudo leva a crer que foram eles mas fico pensando em certos ditos populares, tais como: nem tudo que reluz é ouro – nem tudo que balança cai – quem vê cara não vê coração, e vai por aí a fora.
Lembro-me de um caso acontecido na Marinha tempos atrás. Nessa época , diz Jeremias, eu era um grumete, ou seja, um recruta e prestava o serviço militar em uma repartição em terra.Trabalhava em um gabinete servindo a autoridade de alta patente.
Num determinado dia, para uma audiência com a autoridade, adentrou um militar com patente de oficial subalterno. Olhei para aquele homem e me deu pena ver um oficial com aspecto tão triste (naquele tempo não conhecia o que era uma deprê. Se o sujeito chorasse ou vivesse pelos cantos dizia-se que era frescura) e com uma idade que por força da carreira militar já deveria ser um Almirante (os Almirantes naquela época eram homens idosos com quarenta ou cinqüenta anos de serviços; hoje se atinge tal posto mais cedo, acredito.).
Imaginei muitas coisas que poderiam ter acontecido àquele oficial tão triste, tão desgostoso, tão envelhecido, cabisbaixo e com um olhar de quem pedia piedade.
Uns dois meses depois, o mesmo oficial adentrava mais uma vez no recinto em que eu trabalhava e para meu espanto os galões que estavam em seus ombros indicavam uma patente próxima à de um Almirante.
Fiquei curioso com o fato e comentando com colegas de trabalho, soube o seguinte: aquele oficial, no início de sua carreira militar, ainda como segundo tenente, servira em um dos navios da Marinha de Guerra e tinha a função de Tesoureiro, sendo responsável pelo pagamento dos soldos da tripulação, que era efetuado em espécie. Antigamente o pagamento era realizado no chamado boca do cofre. Você recebia sua remuneração integralmente, sem faltar um centavo. Hoje não, é tudo mais prático e você recebe através de uma conta bancária que devido a muitas artimanhas lhe suga algumas quantias com a aquiescência daqueles em quem você votou para acabar com essa safadeza.
O oficial recebia o numerário de determinado setor e repasssava à tripulação distribuindo as quantias em envelopes lacrados.
Num certo e fatídico dia, todo o numerário que estava sob sua responsabilidade desapareceu do cofre que somente ele conhecia o segredo e portava as chaves.
Houve inquérito e todos os indícios do crime apontava para ele. Depois do inquérito o processo foi instaurado na Justiça Militar e a condenação de muitos anos de prisão, a humilhação, a execração pública, a vergonha, o mar de lama apontava para um único réu, o nosso segundo tenente.
Foram muitos interrogatórios, ameaças, e quem sabe até torturas e o jovem que sonhava e se esforçava para ter um futuro brilhante; que sonhara em dar o melhor de si pela sua pátria, ali se encontrava sendo acusado de algo que não admitia ter praticado. Exames periciais foram feitos; laudos técnicos produzidos, impressões digitais foram colhidas; busca em todos os recantos do navio, em sua residência; seus parentes mais próximos e amigos vigiados e nenhuma pista surgiu que lhe fosse favorável. Com tantas suspeitas contra si, viu-se envolto num turbilhão de acusações onde as pessoas que lhe eram mais próximas começaram a hostilizá-lo e a condená-lo sem piedade, sem clemência. Ele se tornara um ladrão e tal palavra naquela época tinha um significado muito forte. Ladrão era ladrão – tanto fazia roubar um tostão quanto um milhão, era ladrão. Hoje o que vemos é que se roubar um tostão é ladrão, porém, se roubar um milhão é colarinho branco e pode processar seu denunciante e no final ainda é premiado com cargos que realmente deveriam ser ocupados por pessoas decentes.
Para não nos estendermos mais, o amigo deve imaginar o quanto foi humilhado aquele jovem e como deve ter sofrido; todos o condenaram, até seus mais íntimos amigos e familiares.
Os anos passaram com rapidez para os que estavam em liberdade mais para aqueles com restrições de seu ir e vir a lentidão deve ser mortal.
Muitos anos se passaram e em um determinado dia um elemento foi preso por pequenos furtos. Por não ser fichado na polícia, uma determinada autoridade policial com vasta experiência resolveu fazer um levantamento da vida do marginal e acredito ter usado métodos persuasivos (era uma autoridade que se empenhava em aplicar o método de tortura nunca mais) e com bom senso o meliante concordou pacificamente em historiar sua carreira à margem da sociedade começando pelo seu primeiro delito que indicou o seguinte: sua vida delituosa se iniciou quando era marinheiro e servia a bordo de um navio da Marinha de Guerra,quando em um determinado dia ao passar em frente a um dos camarotes dos oficiais notou que um cofre estava semi-aberto e continha bastante dinheiro dentro dele. Ele furtou todo o numerário escondendo-o em local difícil de encontrar. Quando a situação voltou ao normal e o suposto ladrão, que fora o oficial, preso, sendo época de seu encerramento de tempo de serviço, pediu licenciamento do serviço ativo e se escafedeu pelo mundo afora a gastar todo o dinheiro. Viveu dias de mil e uma noites enquanto o jovem inocente oficial amargava a prisão, humilhações, o desprezo da sociedade, apodrecendo sua células nas celas de vários presídios, etc. Creio não ser necessário descrever tal sofrimento pois por imaginação todos nós podemos deduzir como se passam essas coisas.
De posse das informações obtidas através do elemento, a autoridade, usando do bom senso comum existente entre os policiais de um modo geral, comunicou o fato às autoridades de Informação da Marinha que de imediato descobriram de que se tratava e justiça, embora tardia pelas circunstâncias, foram tomadas e o jovem agora um velho oficial foi readmitido nas fileiras da Marinha e todos seus direitos foram garantidos.
Depois de saber da injustiça que sofrera aquele oficial foi que pude entender o quanto suas feições apresentavam tanto abatimento, tanto sofrimento.
Felizmente o mal, embora tardio, foi reparado.
Até que se prove o contrário, todos são inocentes perante a lei. Hoje ao assistirmos a qualquer noticiário o que vemos é o caso da menina supostamente assassinada pelo pai ou pela madrasta ou por ambos
Perícias foram feitas, reconstituições, interrogatórios, testes científicos e conclusões unânimes: foram eles. Aí pergunto: um casal de classe média alta, nível de estudo superior ou beirando o mesmo, um casal jovem, inteligente, não usuários de qualquer tipo de drogas, iria provocar um farsa dessa natureza para justificar um provável acidente familiar ? Qual pai faria ou deixaria jogar o corpo de sua filha através de uma janela de uma determinada altura para justificar um provável acidente ?
Cheguei a pensar que a criança poderia ter sofrido uma agressão física vindo a ficar desfalecida dentro do carro. Se assim fosse, creio que eles teriam ido imediatamente a um pronto socorro relatando qualquer tipo de acidente, até mesmo uma freiada brusca ocasionando lesões à criança. Mas não o que se deduz é que montaram um cenário de filme enigmático próprio dos enredos romancista de Aghata Cristie. Por que ? Ficaram doidos ? Se podiam bolar um álibi mais simples, por que tanta artimanha ? Parece-me um plano arquitetado com fineza e frieza de detalhes para ser posto em prática assim de um momento para outro.
Acho que um casal jovem e inteligente jamais jogaria uma criança, mesmo não sendo sua, de uma determinada altura para se livrar não se sabe lá do quê.
Estamos vivendo num mundo cheio de surpresas e a manifestação de indignação da população, insuflada de certo modo pelo sensacionalismo da mídia, cria um clima de revolta coletiva. Uma comoção exacerbada. Não seria hora da gente se colocar no lugar daquele casal e nos solidarizar-mos com suas dores ? Até que ouçamos de suas próprias bocas que cometeram tal crime, não devemos condená-los, pois muita coisa existe entre o céu e a terra que o homem não tem ainda a capacidade de percebê-la. O melhor será, acredito, esperarmos, pois não existe crime perfeito e sim mal investigado. Um dia a verdade prevalecerá e aí sim poderemos afirmar se foi o casal ou se de alguma maneira, a mais misteriosa possível o assassinato partiu de uma mente ou entidade maléfica e aí tudo por certo se esclarecerá. Não devemos atirar a primeira pedra para não correr o risco de atingir o alvo errado .
Minha comoção, diz Jeremias, decorre de dois fatores: um fator é a inocência do casal que para a justiça dos homens está sendo impossível de acreditar e o outro fator é que se foi realmente algum deles ou os dois os criminosos, a humanidade acaba de atingir seu ponto crítico de degradação, pois assim sendo, maiores atrocidades estarão por vir.
Estarrecido com o relato do velho marinheiro e observando aquele semblante que transpirava piedade e compreensão, cada vez mais confuso nas inclinações a que partido tomar, ou seja da inocência ou da culpabilidade do casal, apenas emudeço.
Encerramos nossa entrevista e segui pensativo e comovido imaginando mil maneiras de com o ocorrera o fato delituoso e fatídico e uma pergunta não me deixa calar: será que não foram eles ? Só me resta a opção de perguntar ao amigo leitor: e você o que acha que aconteceu naquela fatídica noite ?
E aquela estória do oficial, será que é verdadeira ou não passa de invencionisce ou esperteza de nosso estimado militar.
É melhor darmos um tempo, pois o tempo é e sempre será o melhor Juiz e roguemos a Deus pela alma daquela linda criança.