20 janeiro, 2008

Cartilha do Teofildo



Dizem que o espínho quando é bom de pequeno já traz a ponta. É uma bênção o nascimento de uma criança, um ato divino, seja ela branca, preta, parda, amarela, albina, ou outras pigmentações permitidas pela natureza.
Teofildo ao nascer, quando lhe deram aquela palmadinha para ele passar a respirar sem o auxílio do cordão umbilical, esgoelou-se, foi aquele escarcéu, o maior barraco
Era uma gracinha de bebê, uns achavam parecido com o pai outros com a mãe, outros com os tios, tias, os cunhados, e tinham os maldosos que os achavam parecido com o vizinho japonês. Já chamavam a criança pelo apelido de Japinha. O pai a toda horas, exultante, não cansava de repetir: é o minininho do papai !
Justiça se faça, apesar de todo recém-nascido se parecer um com os outros.ele era exceção. Tinha uma cabecinha um pouco maior que uma criança normal, já nascera com cabelo mais só nas laterais da cabeça, um olho olhava para o norte e o outro para o sul, lábios carnudos, nariz de bolacha, bracinhos e perninhas curtinhas, mas os ovinhos e a bilunga, esses sim eram avantajados.
Entre um incenso e outro, uma oração e outra, a madrinha, que era parteira, olhava de soslaio e dizia baixinho, de vez em quando, será que isso se cria ? E assim nasceu, cresceu e viveu nosso pequeno Adônis, sustentado à mamadeira de caldo de sururu de capote.
Ninguém queria trocar suas fraldas, nem mesmo a mãe, pois quando o bebezinho fazia qualquer quantidade de dejetos que reunisse coleiformes fecal compactado, nem urubu chegava perto. Daí a dificuldade de encontrar alguém com coragem ou olfato necessário à execução de tal tarefa.
A família da mãe era uma família comum aos nossos dias, tinha tios cachaceiros,tias lésbicas e simpatizantes, sobrinhos gays ou mais comumente chamados de viados, maconheiros e até políticos..
Quando balbuciou a primeira palavra o pai exultante gritava: é o meu bebê! Normalmente a criança balbucia em primeiro lugar o nome papai ou mamãe dito mais ou menos assim: pápá – mã - mã . Ele não, disse logo: boi, boi. O vizinho do lado, o Japa, quando ouvia o menininho pronunciar boi, caía em gargalhadas, até hoje não se entendem por que.
E assim foi crescendo nosso herói, desengonçado, magro, xexelento, zoiudo, retardado, bisonho, sempre chupando os dedos e o maior admirador do pai. Certa vez alguém, a título de brincadeira ,disse a ele que seu pai era fresco.
Ele bastante indignado, possesso, e aos berros disse: painho é macho, tem revólver, tem duas negas, bate nelas, painho dá tiro, painho é ôme com O maiúsculo, painho já teve até dois putos.
Troninhos, não parava um inteiro, a não ser quando ele espirituosa e graciosamente colocava-os sobre a cabeça e saía gritando: T a p i r o c a (é que não sabia dizer ainda tapioca). As necessidades ditas fisiológicas sempre eram feitas no meio da sala. A vovó ia à loucura, pois sempre que ocorria o fato ela se lembrava de seu falecido pai que trabalhava em um laboratório de análises clínicas. Seu Romão, o bisa, examinava as fezes para análises laboratorias e se existiam alguns parasitas, principalmente lombrigas . Ele colocava o material colhido em cima de uma folha de jornal e depois soprava o conteúdo fecal. O que voasse era farinha e o que ficava era lombrigas e aí estava feito o diagnóstico.
Titio Jeremino, logo que a criança começou a andar prontificou-se a tomar conta do sobrinho e cedo, cedo, por ter personalidade duvidosa, queria ensinar a todo custo o estimado sobrinho a fumar charutos e cheirar cola. Além desse tio, existiam outros sócios-não-educaivos , elementos pontuais em quase todas famílias ditas normais, porém eram muito unidos quando tinham que iludir, dar "um cano" ou "passar o chapéu" em alguém; aí sim a união faz força ou pilantragem ou se preferir: família que rouba unida permanece sempre unida Já a família do pai era um horror. Corretos, metidos a certinhos, desunidos, um ou outro é que lá uma vez ou outra queria passar a perna num e num quase nunca se deixava passar a perna. Umas nulidades sociais, nem para roubar prestavam. Eram uns quase certinhos na visão da matriarca, a esposa ,Dizia : até gostar de leitura os safados gostam.
Teofildo crescia a cada dia que passava com uma não robustez quase esquelética; cedo adotou brinquinhos nas orelhas, cabelinho a la Ronaldinho nos tempos áureos, tatuagem do Che Guevara no braço direito.; sapatos aos dez anos já calçava 44. Aquelas coisas se quando recém nascido já eram grandes, agora pareciam dois cocos e uma jibóia. Aos dez anos ainda não tinha coordenação motora suficiente para amarrar sozinho os cadarços de seus sapatos. Mas justiça se faça à sua rara inteligência que era rara mesmo. Era sempre o último da sala nas matérias. O último a chegar, o último a apresentar os trabalhos e o primeiro a lanchar e ir para casa vadiar.Para ir para a escola era uma criança, mais para ir para casa era uma avião.Quando uma coleguinha de escola puxava conversa com ele, ficava pálido, trêmulo das mãos, pingavam-lhe uns suores gelados das mãos e não conseguia olhar nos olhos das menininhas. Tinha horas que o nervosismo era tanto que até flatulava. O mérito desses gestos tão desagradáveis descobriu-se somente na idade adulta através de Freud. Fazendo análise descobriu-se que quando bebê para dormir, uma tia cantava: boi, boi, boi da cara preta, peque esse menino que tem medo de b ... ... ... .... ....
Aos dezesseis anos conseguiram-lhe seu primeiro emprego sem carteira assinada – apontador do jogo do bicho. Logo deu prejuízo aos seus pais, pois lerdo como era perdeu algum dinheiro por displicência bem como errava demais nos cálculos. Todos afirmavam que era uma mala sem alça. Experimentou nessa época, por influências de amigos, a canabias sativa a popular maconha. Aí piorou, pois se já não gostava de se assear, banho só nos feriados.
Especializou-se em gírias e começaram os pequenos furtos, até a prisão e o encarceramento cruel perverso, contrariando tudo quanto é lei, pois apregoa-se que tortura nunca mais neste país, mas o que se vê é mais que tortura, é a tortura moral, decrepitude do ser humano, creio que nem na época dos homens da caverna, se houve cativeiro, as condições comparando as épocas não seriam tão desumanas quanto as de hoje no sistema educativo prisional, mantendo em todas as regiões da federação, presos confinados em selas numa desproporcionalidade irracional de sua população empilhando em celas com capacidade mínima, uma proporção geométrica de prisioneiro, na forma mais degradante a que possa se sujeitar um membro da raça humana, puramente devido à incompetência de determinadas autoridades policiais que seguem religiosamente a incompetência da autoridade jurídica que por sua vez espelha-se na irresponsabilidade da autoridade legislativa.
Coabitando na mesma sela com mulheres menor de idade, sexagenários incorrigíveis, estupradores, viciados, aidéticos, punguistas inocentes úteis e toda a nata da bandidagem, para ele (Teofildo) não existiu escola melhor, mais especializada. Entrou Lampião e só não saiu Maria Bonita porque cedo caiu na simpatia de Zezão, um afro-descendente (crioulo) de um metro e noventa, lutador de capoeira, jiu-jitsu, box e demais artes marciais que dependendo do momento poderia se transformar em Zezão ou Zezinha. Para sorte do nosso estimado consorte, ele, o Zezão, preferiu ser sua Zezinha. Romântico não é ?
A família da mãe exultava pois pela primeira vez tinha um membro da clã atrás das grades e isso para eles era ponto de honra, o símbolo do machismo.
Conhecera Teofildo, nesse mesmo cárcere, uma de menor que ali se encontrava e era obrigada , a troco de um prato de sopa, a exercer a prática sexual com vários detentos e detentas, de nome Jeremina com quem mais tarde, já na fase adulta,iria contrair matrimônio em uma igreja da pastoral universal do reino dos santos.
Esclareçamos que sua prisão não se deveu ao fato de roubo como se presume inicialmente, mas simples agressão a um senhor da terceira idade que ficou bastante arrebentado, diríamos ficou em banda de latas. Como a justiça é cega, é o que se configura na imagem da estátua com venda nos olhos, ele teve o atenuante de que estava bêbado e drogado. Se estivesse em seu estado normal, sóbrio, a pena ou penalidade seria agravada. Como estava bêbado e drogado a pena foi atenuada, pois cometera o delito talvez até sem o perceber. É doida ou não essa senhora da veanda nos olhos? É ou não é um incentivo a se usar drogas e bebidas alcoólicas ?
Depois daquela prisão Teofildo reflexivo que foi, procurou modificar seu proceder. Lembrava-se que fora um afortunado em ter encontrado a negra Zezinha ou negro Zeão em seus dias de fêmea, senão hoje não seria mais Teofildo e sim Teofilda. Esses pensamentos lhe causaram arrepios, um verdadeiro pavor. Reiniciou seus estudos em cursos supletivos e com a ajuda de parentes iria fazer faculdade. Alguns parentes até comentaram: é melhor pagar uma faculdade pra ele do que viver engordando advogados de porta de cadeia, uns verdadeiros abutres. E nosso personagem cursou uma PPP ou seja papai pagou, passou. De início foi bem colocado no vestibular que prestou, foi o quinto colocado num total de dez concorrentes. Faltava muito às aulas mais finalmente recebeu o tão ambicionado objeto de seu desejo, o canudo (o diploma). Por muito e muito tempo advogou nas portas das cadeias munido de um banquinho, de algumas pastas de cartolina,uma máquina de escrever portátil, lápis, papel e conhecimento com os delegados colegas de turma, de faculdade, carcereiros, escrivões, foi deixando para trás o estígma de quanto maio o anel, mais burro o bacharel.
Hoje, casado, três filhos do casamento com Jeremina, fiel esposa, e uns tantos espalhados por esses brasis afora, uma bíblia na mão, sua leitura obrigatória, o código penal e a constituição sempre ao alcance, olhava para seu primogênito que desde cedo se dedicara aos estudos do catecismo, da teologia, e ele, o pai, gostaria que o filho lhe substituísse na carreira que ora este se dedicava, a carreira política, que achava das mais promissoras, pois faziam e aconteciam e no final ficava o dito pelo não dito e eram sempre inocentados.
Mas a criança estava irredutível, se não pudesse seguir o sacerdócio, sua outra opção era ser bailarino de banda de forró. Desde cedo o menininho já apresentava um trejeito ao andara e gostava de brincar de bonecas, desfilar imitando a Gisele Burchen e gostava também de brincar de rodas. Ficava roxo de alegria quando chegava o final da brincadeira e diziam, ou melhor,cantavam:vamos fechar a roda, olé, olê, olá e seu melhor amigo Jorginho Chupeta se encostava nele e ele em alguém à sua frente. Às vezes o prazer que sentia era tanto que parecia querer desmaiar. O pai apesar de no passado ter pertencido ao gangaço nada percebia de anormal na criança mais tinha amigos que porá trás já diziam o bordão: tem pai que é cego !
Numa dessas discussões, Junior se descabelou e saiu de casa para morar com Joãozinho chupeta que agora já taludo passara a se chamar Jô Chupetão. E o pai triste pensava nas oportunidades que o filho teria se seguisse seus conselhos, poderia quem sabe vir a ser um dia presidente do senado, uns e outros por aí pintam, bordam, faz e acontece e no final , depois de chegar lá, é só procurar, investigar os rabos presos que está tudo garantido. É só receber os louros, de preferências as louras, as verdinhas, erguer a cabeça pregar a moralidade, comprar, seduzir, extorquir o quanto mande o figurino, mas o menino nada, só pensa em um dia ser papa. Já a filhinha não, esta era ladina, fazia todos os gostos do pai, dizia que ia para o teatro com fulaninha,pegava o carro e ia com fulaninho para as baladas, para cafofos, forrós, arrasta pés, bailes funks e muitos ambientes poucos saudáveis como aqueles bailhinhos que na tabuleta da porta encontra-se registrado: mulé feia não paga mais também não entra.Era também muito mandona, prepotente, espalhafatosa, cheia dos direitos, enfim uma pessoa com índole não muito afinada.Outro dia em uma discussão com uma outra da laia dela , chamou-a de rapariga e a parceira aos gritos retrucou: quando falar comigo ou de mim, dobre a língua! E ela incontinente dobrou (literalmente ) a língua e prossegui: rê –pa-ri-ga, rê-pa-ri-ga !
Já o filho do adultério, o mais velho, esse sim, lhe dava bastante alegria. Ortoépio, era esse seu nome, era a cara do pai, até os traços nipônicos ele tinha, e tinha sido sua caricatura durante os primeiros passos e infância.
Esse sim, queira ser político a todo custo; cedo aprendera a mentir, a iludir, a fruticar, a se propor a ajudara a alguém com a melhor das boas vontades mas por trás o intuito era sacanear e tirar proveito. O pai muito entristecido cedeu às exigências dos filhos e cada um seguiu sua profissão. Jr. se consagrou padre mas nunca passou do primeiro plano da hierarquia sacerdotal, pelo que se sabe passou o resto da vida pregando numa igrejinha pra lá dos cafunés dos Judas, interior de não-sei-das-quantas. Emenergilda chegou a cursar uma faculdade de direito, uma ppp, ou seja, a mesma coisa do pai, mais desistiu logo de início, pois a preguiça e as baladas não deixaram o sonho do pai se realizar. Segui mesmo a carreira nobre de dançarina de banda de forró. Hoje está muito bem na vida, casou-se com o vocalista numa igreja evangélica, o Eleotério C. Grande (C de cobra) e quando não está lavando o guarda roupa da banda está ensaiando ou cantando em tudo que picadeiro de circos e barzinhos pouco afamados.
Mas voltemos ao bastardinho. Seu nome Epaminondas. Esse glorificou o pai. Cresceu comprando gado, tinha uma caixinha cheia de grilos, daí puseram-lhe o apelido de grileiro. Tinha sociedade com quase todos os amigos e finalmente, depois de armar uma cilada a um político local, chantageou-o e entrou para a política no partido da vítima. A armação foi muito bem feita, mandou sua própria esposa que era um pedaço de mal caminho, seduzir o velha guarda e no momento que ele estava com a boca na botija ele os fotografou e ameaçou mostrar a foto à mulher do infiel parlamentar que diga-se de passagem era uma verdadeira cobra.Daí até a diplomação a coisa foi rápida.
Agora, passado tantos anos, vamos encontrar Teofildo alquebrado pelas intempéries da vida, cabisbaixo, pensativo, circunspecto, nauseabundo, chefe da clã, em muitos momentos analisando o que havia feito de bom ou de mal durante toda a sua vida e achava que todo mal que se abatera sob ele e sua família, só podia ser inveja, aves de mal agouro, perseguição ideológica. Em seu julgamento íntimo, Epaminondas era inocente. Não via erro em desviar um pouquinho de dólares do orçamento, afinal, quem não faz isto? Não via erro em outras falcatruas porque levante um dedo quem já assumiu esse cargo um dia e nunca se beneficiou dele, da função, do conhecimento, do relacionamento saudável do toma lá da cá?E o pobre, só porque a mulher que ele mantinha, por anos, em cárcere privado, tendo conseguido escapar do cativeiro o denunciara às autoridades. Mulher cruel, não precisava falar da mala, do comprometimento com o roubo de carga, com o superfaturamento, com adulterações em notas fiscais, com distribuição de colchões nas comunidades carentes às vésperas de eleições e só por isso os seus pares, todos com telhado de vidro, pediram a sua cassação.
Orientou o filho o quanto pode e às vésperas de ser cassado seu filho amado renunciou ao cargo para fugir da cassação e só restava agora achar força para no próximo pleito reeleger aquele filho que lhe proporcionava tanta alegria.
Teofildo em silêncio, somente com seus pensamentos, agradecia aos céus pelo seu menino ter sido tão ladino, provando que havia aprendido com as lições do pai, seus conselho suas observações, não esquecendo que o melhor ataque é a defesa e que não podendo com o inimigo o melhor é se aliar a ele. E muitas falcatruas que ele jurava que nunca as fez passa pela sua lembrança sem o menor sentimento de culpa, afinal o mundo é dos mais espertos, quem for fraco que se arrebente, a fila andou e quem não acompanhou dançou. Gostaria imensamente de escrever suas memórias mais era impossível , pois se alguém descobrisse ao menos metade das desonestidades por ele cometidas, juntamente com seus pares, até o coisa ruim iria querer condená-lo, imagine os pobres mortais.
E aquela vida cheia de encantos e desencantos chegava a um estágio que exigia descanso e passando o bastão ao mais velho dos seus filhos bastardos Teofildo podia finalmente se aposentar e hoje quase que no anonimato colheria os frutos que a vida lhe plantou.
E para finalizar, se você não é bonito, se não nasceu em berço de ouro ou em uma família soberana, se seus filhos não gostam de suas orientações, se sua amada lhe põe chifres, se está triste, abatido, desanimado, procure seguir os ensinamentos que lhes são oferecido nessa cartilha da vida a cartilha do Teofildo que você ao certo prosperara´,só não sei se será feliz.

Feliz Natal


Aproxima-se o final de mais um ano - Ano de 2007. Estamos a três dias do Natal e o clima entre as pessoas, principalmente da boca para fora, é de cordialidade, de votos de um feliz natal e próspero Ano Novo. O comércio está em festa, os comerciantes de um modo geral aumentando os preços de seus produtos e juram estarem oferecendo promoções. A criançada toda de férias, alegres, compromissadas apenas com suas brincadeiras infantis e a espera de um Papai Noel. Mesmo as mais pobres sonham com uma lembrancinha, um prato de sopa quente, um pão. Feijão, não, está muito caro, os olhos da cara. Feijão só nas voltas às aulas. Aqueles com um furinho e um bichinho dentro que os governantes oferecem na merenda escolar.Os aeroportos lotados de passageiros, famílias dormindo pelo chão, crianças amamentando sujeitas a todo tipo de desconforto. Idosos sendo ameaçados de levar uma bifa por estarem reclamando e exigindo tratamento diferenciado de acordo com a lei e estatuto que ainda não decolaram de vez, cachorros, gatos, veados, muitos veados todos aglomerados nos salões dos aeroportos. Agências de viagens aéreas vendendo mais passagens que o número de vagas existentes nos aviões e a imprensa falada, escrita e televisiva usa pomposamente para designar esse tipo de fraude uma palavra estrangeira "overbook" um puro desrespeito à língua pátria. Ministros sendo depostos por total incompetência e seus sucessores ainda, com a maior falta de ética e boa educação, os humilham em público e através da televisão dizendo que quem sabe faz e quem não sabe pega ao rolo de papel higiênico e vai fazer noutro lugar.Embora que passado algum tempo trilha a mesma rota da incompetência.
Diante de um quadro dessa natureza muitos seres humanos se sentem comovidos, sensibilizados, tristes, nostálgicos, assim fico também nesse momento. Há também aqueles mais fortes em seus sentimentos que pouco se sensibilizam , nem mesmo com a perda da CPMF (aquela Anaconda financeira) pelo governo, eles não perdem o sono. Também, nada vai sair dos bolsos deles!
E é nesse momento nostálgico que me lembro de uma estória que ouvi outro dia quando almoçava solitário no cantinho do bode aqui na minha cidade.
A estória é mais ou menos assim:" Inocêncio era um vida torta, um ébrio, um irresponsável a mais de quarenta anos dos seus sessenta já vividos.Tinha o corpo tatuado, cheio de cicatrizes, era mal asseado, estúpido, mas como todo mundano era bastante vivido e inteligente porém quase sempre vivia alcoolizado. Um dia ao passar em frente a uma igreja evangélica achou admirável a maneira como um pastor chutava a imagem de um santo; maravilhou-se e resolveu aceitar os ensinamentos. Certo dia assistindo alcoolizado a uma pregação, ou melhor um culto religioso, o pastor Outro) começou a exorcizar um elemento que estava possuído pelo inimigo. O pastor com a mão direita na cabeça do possuído fazia orações e determinava que o ente do mal deixasse o corpo daquele cristão mas não estava obtendo resultado. Foi quando Inocêncio se aproximou, tomado por uma grande comoção e muita cana, e na maior cara de pau substituiu o pastor. Ele colocou a mão sobre o ombro do possuído e começou a dizer: e aí mano velho, larga esse osso que isso aí não mais te pertence, larga esse osso ôme, esse cavalo ta bichado meu, vamos lá brother, volta pras gatinhas meu, salta fora que a fila quer andar meu chapa, você sabe criatura que não existe possuidor sem possuído, dá no pé bicho aqui só atem cascalho e outras gírias foram ditas e em poucos segundos a pessoa endemoniada estava livre daquela encarnação, o demo se fora.
Diante do ocorrido o pastor se viu na obrigação de convidar Inocêncio para dar seu testemunho pois ,sabia que ele era um novo convertido e o que acabara de ver era a glória.
Inocêncio se viu atrás do púlpito, diante de uma igreja lotada de fies , simpatizantes e penetras que lá iam apenas merendar e bisbilhotar a vida alheia.
. E iniciou seu testemunho dizendo: por muito tempo eu vaguei pela sombra do vale da morte. Os fies, aleluia!.mentí – aleluia; roubei – aleluia , prostitui,, matei, iludi, andei com as mais lindas mulheres , vesti as melhores roupa, tive os melhores carros, tive fazendas, bois ,vacas,bezerros e todos os outros seres humanos me respeitava e obedeciam. E continuava: tinha relógio rolex – aleluia,pratiquei sexo todos os dias não livrando nem a cara das empregadas – aleluia, e por fim olhou para todos e com uma cara triste disse: eu era feliz e não sabia. Quantas saudades tenho de tudo isso !
Depois desses comentários , devido talvez ao período natalino onde todos comemoram, compram bacalhaus, vinhos, perus, doces, iguarias , brindam a tudo e se esquecem que a data se refere ao aniversário do nascimento do menino Jesus e poucos se dão conta do fato, minhas lembranças me levam a um crime que ocorreu aqui no Brasil ou melhor, dois crimes bárbaros que . Um praticado por uma pessoa insana que por ciúmes do amante matou a filhinha deste com estigma de crueldade e ficou conhecida como A fera da Penha; o outro o de uma linda criança do sexo feminino de nome Aracelli, moradora à época em Brasília, capital do Distrito Federal, que foi cruelmente assassinada por jóvens da classe alta, gente rica, e dizem que contou com o envolvimento do filho de um político daquela época e que veio a seguir a carreira do pai.
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra..Na outra estória o praticante do evangelho renegou sua fé na religião que acabara de ingressar. Nessa estorinha de agora, crime hediondos foram cometidos, qual a relação ?
Digo que tem tudo a ver pois ambos os finais nos levam a um ponto comum que é o sentimento de saudades. Inocêncio sentiu saudades daquela vida mundana e eu senti saudades do sentimento de revolta que todos tivemos ao sabermos, à época , dos crimes cometidos, uma barbárie na verdade. São tempos que não voltam mais. Aqueles crimes foram considerados hediondos. Hoje qualquer marginalzinho de doze ou treze anos já cometeu crimes de maior gravidade e simplesmente são amparados pelo Eca (Estatuto da criança e do adolescente) e se não pelas leis dúbias que se proliferam no dia a dia no nosso país e pelo próprio ministério público.
A violência cresceu vertiginosamente daqueles tempos para cá e avança cada vez mais e cada vez mais também são as falácias dos verdadeiros responsáveis pela reprimenda a esses crimes. Nessa época em que ocorreram esses crimes, era esse o momento oportuno para se estripar e punir exemplarmente tais atitude, mas não o fez, e deu-se início à barbárie.
Hoje funestamente podemos afirmar que casos como o da Fera da Penha, da criança Aracelli, se se repetirem neste momento, não daremos a mínima importância porque
já estamos ungidos pela barbárie e o abandono em que se encontra esse Brasil varonil. E que só ele, o aniversariante, poderá um dia reverter esse quadro de tantas atrocidades. No momento nossas autoridades estão como cegos em tiroteio - perdidas.
Mas é natal, esqueçamos todas essas mazelas, esqueçamos que nosso país amado vive uma crise moral de estar bem próximo de ser o último do mundo em distribuição de renda, primeiro em analfabetismo, desemprego, falta de segurança, caos na saúde pública e que vergonhosamente somos os primeiros, também, em corrupção malversação dos bens públicos, superfaturamentos, tudo isso praticado por aqueles que com promessas de representatividade honesta legislam sempre e cada vez mais demagogicamente em causa própria. Esqueçamos e ao nos dirigirmos a Ele nesse natal, ao reverenciá-lo, possamos ao menos dizer: pai SOCORRO. Eles não sabem o que fazem, Ou será que sabem?
Infelizmente, como uma praga, uma doença contagiosa, um vírus, a desonestidade se espalha por todas as classes sociais, até entre mendigos, pedintes, moradores de rua, ao invés de solidariedade existe a disputa de território por um pedacinho de solo onde possa vir a se deitar e passar uma noite de frio uma noite de natal.
A proliferação do enriquecimento usando o nome do aniversariante é algo de inimaginável; foi o mais rico filão de ouro que a mente espertas dos mercadores possas ater concebido. Será que são os sais da terra?
O natal mais uma vez se aproxima cheio de comemorações, mas tenho certeza que desastres automobilísticos, crimes passionais, roubos homéricos, roubos de colarinhos e outras tantas atrocidades ocorrerão e infelizmente não nos daremos conta de que assim como ou pouco de nós o aniversariante está decepcionado e triste, mas eles, os que deveriam estar mais tristes dormirão em berço esplêndido toda essa noite de natal. Depois disso tudo só me resta desejar a todos um feliz natal, de coração aberto, e não somente da boca para fora.
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