23 novembro, 2007

O VIZINHO


De repente estou sentado no sofá da sala de minha casa, quando num dado momento me vem lembranças de tantos vizinhos com os quais convivi durante anos e mais anos em casas e condomínios diversos.
Foram vários, incontáveis talvez, mas com todos sempre mantive relações de cordialidade e apoio, beirando a irmandade.
Quando se tem um vizinho cordato, amigo, de hábitos saudáveis, até sua segurança fica mais reforçada, pois, por exemplo, se você precisar se ausentar de seu lar por algum tempo, terá sempre a figura amável e vigilante de um de seus vizinhos.
Existem também os exageros como no caso de dois vizinhos que tive a algum tempo atrás e tendo a mulher de um deles de fazer uma viagem longa, pediu para a amiga vizinha que cuidasse de seu maridinho, o Raimundo. E ao voltar de viagem flagrou o seu Raimundo com a sua vizinha em colóquio amoroso ou seja fazendo love. A vizinha esposa do Raimundinho (era assim que a guardiã o tratava) alegou com a mais pura inocência que a culpa era dela, pois quando saiu disse para ela (a bobinha) tomar conta do maridão e ela nada mais estava fazendo do que cumprir suas determinações.
Mas no momento lembro-me em especial de um vizinho que coabitava com sua família ao lado direito da casa onde eu vivia, na cidade do Recife, em uma vila de casas localizada próximo à praia de Del Chifre, nas proximidades de uma outra vila militar, me parece, já que me foge a memória que era uma vila de militares que chamavam de vila naval..
Era um jovem afro-descendente ou afro-brasileiro (em outros tempos denominado crioulo) franzino, olhos verdes e aspecto de vivaldino. Sua esposa, um pouco rechonchuda gostava de tomar, de vez em quando, uma branquinha, em companhia de seu mui amado marido.
Eram um casal interessante, chegado a uma balada, mas desleixados com o asseio corporal dos filhos e da casa.
Lembro-me de ter visto a jovem senhora, alguns tantos de vezes, embriagada, com a janela da casa ou mesmo a porta da frente aberta, a trocar-se (de vestuário), oferecendo aos transeuntes cenas exóticas de strip-tease involuntário, dado seu estado de embriagues.
Por pertencerem à mesma categoria funcional que a minha, viviam, aparentemente com maiores dificuldades financeiras, já que eu recatado, não me envolvia em orgias ou noitadas.
Seus três filhos, menores, com três, quatro e cinco anos de idade, andavam quase que desnudos. O de três e o de cinco, eram meninas. O de
quatro anos era menino.
Quando aquelas criaturinhas saiam à rua e o faziam com freqüência, uma estava descalça e as outras duas cada uma com um pé de chinelo, um com o esquerdo a outra com o direito.
Quando um vestia short, calção ou calcinha, o outro ou melhor os outros estavam sem esse vestuário mas vestiam camisetas surradas.
Tem uma palavra na nossa língua, como dirão os Doutos, no nosso léxico que me faz lembrar a criancinha do meio, a de quatro anos, a do sexo masculino, que o leitor atento vai logo distingui-la.
Era um garoto, como todo garoto, simpático. Tinha a cabeça um pouquinho grande, as orelhas ditas de abano, o pescoço era fino, a barriguinha era bastante proeminente; os braços finos com articulações inchadas. As perninhas eram fininhas e os joelhos bem grossos. Tinha a bunda cheia de brotoejas. Estava sempre sem o calção, vestindo apenas uma camisetinha curta e surrada cheirando a mijo.
Seu nariz estava sempre escorrendo e como ainda não aprendera a se assear, normalmente sua nádegas apresentava amostras fecal.
Mas o que mais chamava a atenção de quem olhava para aquela criança, era sua genitália. A criança tinha um pênis que batia nos joelhos e os testículos murchos pareciam mais os de um ancião. Um observador desatento poderia até jurar que entre as pernas da criança nascia uma jibóia.
Na ponta da bilunga se expandia achatada uma formação parecida a um cinzeiro, tudo aparentando na criança, maior idade. Quem o via comentava: é o chapeleta.
Quase sempre que eu chegava em casa e a criança acima citada me via, me pedia quase em súplica: "me dê uma banana ! ". E eu atendia seu pedido. Um dia , e disso me arrependo muito, ao se aproximara de mim aquele inocente avantajado pedindo uma banana, eu, por estar muito irritado com alguns problemas de ordem particular, me irritei mais ainda e disse para minha mulher, em tom ameaçador: "traz uma tesoura que vou cortar a metade dessa aberração. E o coitadinho chispou dali e nunca mais me pediu qualquer coisa e quando me via corria para a casa dele assustado. É claro que me arrependo até hoje de feito tamanha grosseria.
Era engraçado e ao mesmo tempo assustador pois você, mesmo sem querer, ao olhar para a criança se deparava com algo diferente do que normalmente a natureza oferece.
Não recordo mais o nome daquela criança nem o nome de seus pais, mas lembro-me bem quando a mãe sentia a ausência de seu pimpolho, ela gritava por ele na janela, bem alto, para que de longe ele pudesse ouvi-lá: C A C E T Ã O........
E é aí leitor que diante do qualificativo acima mencionado, lembro-me do cacetão e tenho vontade de rir.
Qual seria sua reação se um dia desse de cara, inesperadamente, com o filho do meio (filho do vizinho), o de quatro anos ?
Mas, seja qual for sua reação, o fato é que o amigo (a) deve seguir a minha linha de procedimento. Seja um bom vizinho, pois, um dia, talvez você seja lembrado por mim.

COMPARAÇÕES – Parte IV


Fugindo um pouco ao que estamos discorrendo, lembrei-me de uma estorinha que escutei por aí sobre um consultório médico.
" Um casal de idosos foi ao consultório de um ginecologista. Meio desconfiado o esposo idoso deixou que sua mulher idosa entrasse no consultório sem sua companhia e ficar sozinha com um outro macho, no caso o médico. O médico por sua vez, já meio escaldado, por via das dúvidas, deixou a porta do consultório aberta onde o marido podia vê-los e eles ao marido. Era um médico jovem, muito jovem, e este começou informando à sua paciente que apesar de sua pouca idade em relação à paciente ele teria que lhe fazer algumas perguntas íntimas, mas necessárias e que ela não se constrangesse em responder.
E começou a perguntar sobre remédios, dietas, menstruação, relacionamento familiar, até quando lhe perguntou: apesar da idade vocês ainda têm orgasmos? Ela meio desconfiada virou a cabeça na direção da porta aberta que visualizava o marido, na sala de espera do consultório, e disse em bom som; bem, o dotô qué sabê se nois ainda tem orgasmo ? E ele respondeu: não, diga a ele que o nosso agora é Unimed.
Mas voltemos às nossas comparações. Ética - a ética existente outrora era inabalável. Desde criança, quando se fazia uma peraltice, um colega não dedurava o outro de maneira alguma; até entre os malfeitores, que não eram tantos como agora, um não delatava o outro, era honra, mesmo honra de bandido que estava em jogo.
Hoje não, criou-se até a delação premiada onde um ordinário qualquer tem reduzida sua pena se dedurar o companheiro que haja cometido delitos em sua companhia. A palavra empenhada de nada vale. É evidente que mesmo nos tempos idos, políticos para se elegerem, mentiam , trapaceavam, mandavam matar, etc, mas esses não contam, pois o faziam pelo bem do povo, tudo pelo povo com eles diziam mas que na realidade somente suas candidaturas e mamatas era o que lhes interessava..
O povo ingênuo sempre acreditava, mas a evolução da cabotinagem política foi tanta que hoje, descaradamente, sem o menor escrúpulo, eles prometem mundos e fundos sabendo ser impossível o cumprimento de tais promessas.
Legislam em causa própria como aquele político do interior que tendo sido convocado para uma votação em Brasília, negou-se peremptoriamente a votar determinada matéria , alegando que tinha viajado muito, estava seco, a perigo e só votaria alguma coisa depois que furasse um couro. Por essa e por outras é que vemos o quanto os interesses do povo estão sendo defendidos.
Não nos esqueçamos do legislativo e do judiciário que com suas dubiedades jurídicas pune sempre os menos favorecidos em detrimento dos mais abastados, intelectualizados, apadrinhados. E ao coitado do pobre só resta o adágio popular: um dia ele está por baixo mas para compensar no outro estão por cima dele.
Nos ditos tempos idos se você necessitasse de uma quantia em dinheiro para a diária, ou mesmo para suprir uma emergência, havia a facilidade de um parente, um amigo, um conhecido, até mesmo um cunhado, lhe auxiliar emprestando-lhe a quantia necessária sem a necessidade de juro, de multa, valorização cambial, Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, cadastro ou taxa de manutenção.
Hoje o que se vê é se você precisar de um dinheirinho qualquer por empréstimo, tem que recorrer a uma financeira utilizando juros exorbitantes. Já os bancos é uma mão na roda. Você deposita uma certa quantia, principalmente os funcionários públicos de um modo geral e a maioria dos trabalhadores, e seu dinheirinho, juntamente com o dinheirinho de tantos outros fazem um dinheirão que será emprestado a você mesmo e aos demais correntias ou não , a um preço talvez cinqüenta ou cem vezes maior do que lhe seria pago se você fizesse um investimento qualquer, por exemplo uma caderneta de poupança, onde você depositaria seu dinheiro magrinho e ele sairia raquíticozinho e você ainda vê ser subtraído (ver é maneira de dizer) taxas, impostos, serviços que você não encomendou, e até uma invenção perversa criada recentemente por um ex-Presidente que assim como todos os outros juraram, em campanha, a proteger os interesses do povo, dos menos favorecidos, essa maldita CPMF.
Bem, acho que fiz uma análise sucinta com essas poucas e reduzidas comparações e não vou mais me estender no assunto pois sei que o tempo do amigo leitor é curto e vale ouro.
E aí o nobre e paciente leitor ou ouvinte ao humilde autor dessas breves linhas com relatos sinceros e honestos, pergunta: e daí como devemos fazer para reverter tal situação e melhorar a situação ?
Mas infelizmente, com grande pesar, respondo-lhe: nada. É só esperar a sua oportunidade e seguir o exemplo da evolução. Se lhe derem um favo de mel para tomar de conta, você ser humano bom, honesto, sabe que o conteúdo do favo é doce mas como eu não se contentará em guardar o favo e sim passará o dedo no favo e levará à boca para certificar-se se realmente é doce.
É natural, é próprio do ser humano, faz parte da cadeia evolutiva.

COMPARAÇÕES – Parte III


Já na adolescência as coisas tomaram rumo muito mais perigoso com essa tal liberdade sexual. Essa abertura plena. Não sei muito sobre aberturas mas me considero meio preconceituoso sobre elas. Prefiro fechamento, mesmo porque, depois que houve a tal abertura política, da época do Sarnei prá cá, vocês estão vendo diariamente o que se passa.
A Lei de Gerson se escancarou no país, o toma lá dá cá piorou, as promessas mirabolantes que não serão cumpridas nunca proliferaram. Bem mas esse não é nosso tema. Esse assunto é objeto de briga de cachorro grande e não nosso. Voltemos aos adolescentes de hoje e de ontem.
Antigamente um jovem que admirava uma jovenzinha de sua idade via-lhe apenas o rosto, as mãos, o tornozelo desnudo, porque o restante estava todo coberto por vários tecidos em forma de roupa ( anáguas, bustiês ou peiteiras, saias longas, cinto de castidade, etc).
Hoje quando o jovem olha para uma jovem vê-lhe logo toda a intimidade. As peças minúsculas são quase sempre transparentes. Os seios estão sempre à mostra e as saias parecem feitas do aproveitamento de gravatas de tão curtas que são.
Quando as jovens se sentam e cruzam as pernas, temos a sensação ótica de estar vendo até o dentes dela.
Quando antes se namorava uma jovem, o jovem era cerimonioso, burilava as palavras , recitava sonetos e versos de Manoel Bandeira: "dos braços que me abraçaram, dos beijo,...,etc. A abordagem era cerimoniosa, cortejante, romântica. Hoje o jovem já chega chamando a donzela de cachorra, de vadia, safada, piranha, e seu diálogo inicial, se não pornofônico, a frase melhor será: pode ser ou tá difícil.
Já não se constitui grupos de amigos para um sarau. Agora é a turma, o povo, os menino, as girls, os brothers, as cachorras, as tezudas os tanquinhos e outros qualificativos "sui gêneris".
Os pais de não muitos anos atrás se impunham aos filhos. Mantinham a autoridade paterna. O diálogo quando existia era cordial, sincero, polido, burilado; as palavras pronunciadas claramente dentro do léxico. Os conselhos eram constantes; as lembranças aos preceitos religiosos e a obediência a Deus eram ensinamentos comuns.
As mães, pedra fundamental no alicerce do lar e da sociedade como um todo, aconselhavam ao extremo suas filhas que o "nhem nhem nhem", só depois que o bambolê de otário estivesse na mão esquerda e de canudo assinado.
Um sinal de respeito era o jovem dirigir-se aos pais com a frase: a bençameu pai, minha mãe, meu tio, minha tia, meu padrinho, meu sargento, etc. Quando um jovem avistava um padre franciscano imediatamente pegava na bicuda do padre e a beijava. Esclareço ao leitor que a bicuda do padre era ou é não sei bem, aquele cordão que o padre franciscano tem cingindo-lhe a cintura e desce as duas cordinhas pela parte da frente da batin com uns nozinhos de marinheiro.
O jovem normalmente, mesmo os menos aquinhoados, vestiam-se com discrição e a bem dizer com elegância. Camisas de mangas compridas, calças com vinco, suspensórios, cintos , lenço no bolso da camisa - perfumado com o Lancaster. Até os quinze anos aproximadamente usavam calças curtas com paletó e gravata (uma gracinha) .
Já nossos jovens de hoje vestem-se de qualquer jeito; sem camisa, de short tipo sunga ( os mais gordinhos, sungão), calças jeans toda rasgada e fedendo a peido, cabelo no corte tipo aqueles índios americanos sherokies ou Sioux, semapre com um cigarro nos lábios e uma latinha de cerveja na mão, tatuagens pelo corpo todo, brincos de fêmeas nas orelhas (será que tem brincos de macho ?) , uns com os cabelos grandes batendo na cintura e outros com cabelos pinchaim com a moda "cotonete de orelhão" e quando se dirigem aos pais ao invés de lhes pedir à bênção dizem: qualé bhother.. e aí papi. muá. velharia. coroa. mami. manozé e outras grosserias.
As cachorras vestindo um manequim três ou quatro vezes menor que seu corpo para realçar bem os peitos, a bunda e por vezes no cruzar de pernas deixam à mostra a perseguida, tenho a impressão que de propósito.
Os pais de hoje também não se preocupam muito com valores morais. O crime de honra foi abolido de nossa Carta Magna. Salve-se quem puder: ninguém é dono de ninguém. A sobrevivência que depende de uma desordenada e brutal concorrência faz com que a preocupação maior seja o bem material. Tem mais valor quem tiver o maior número de bens materiais.
Os mais velhos do sexo masculino não se cuidam fisicamente. Todo dia são lautas refeições e bebericações a qualquer hora do dia e da noite. As mães, preocupadas porque ao chegarem a uma certa idade a bunda ou cai ou então mesmo amolecida sobe quase a altura da metade das costas e tome silicone para reposição bunda e peitoral.
Os homens maduros de antigamente quando ficavam broxa procuravam no ovo de codorna, na catuaba, aroeira, cipó de véia e outras ervas do gênero, através de garrafadas com substâncias que hoje a indústria leiteira se utiliza para vender mais leite, uma alternativa para sua disfunção eréctil. Se não conseguissem reverter o quadro, o melhor era ficarem quietos num canto e alisarem os chifres conformados.
Quando a mulher aparecia de bucho se vangloriava dizendo que o rebento era seu. Na maioria dos casos, temendo o apoio da Lei que reconhecia o Crime de Honra, Ricardões ficavam no seu canto quieto fazendo cada vez mais herdeiros para o corno broxa.
Hoje não, Tem o viagra, o ciali e outros genéricos . Não se esqueçam dos piratinhas. A fiel esposa logo estimula o uso do medicamento. Só recomenda que não deve usar o piratinha.
O genérico, pode. O perigo desses medicamentos e se ter uma ereção seguida de parada cardíaca (no caso do pirateado às vezes não dá tempo de dizer pindamonhongaba, o cara cai duro alí mesmo, na hora). E existe a possibilidade de acontecer um caso muito curioso que dizem se passou aqui com um conhecido nosso. Foi um vexame, dizia um vizinha para a outra. Pois não é que na hora do rala e rola , após o sujeito tomar a tal medicação, ao invés da ereção ele começou a peidar. Era um barulho só e o quarto ficou pior que terreiro de macumba em dias de festas
E as fissuras anais , comadre !
A medicina no passado ainda engatinhava em comparação com os dias atuais. Você ia a uma consulta médica em um posto de saúde, por exemplo, e o médico conversava com você, lhe auscultava, mandava pronunciar o clássico numeral cardinal trinta e três, língua para fora e se fosse do sexo masculino mandava abrir o colarinho e do feminino tirara toda a roupa. Isso dentro do maior respeito pois eram profissionais considerados quase uns santos Agostinhos.
No final da consulta você recebia uma injeção no braço, na veia ou nas nádegas ou recebia um comprimido denominado chapéu de couro que diziam curava até assombração. Não havia, pelo menos eu não conhecia, psicólogo, psiquiatra, psicoterapeuta e outros tantos etas.
Se o indivíduo aparecesse com determinados sintomas era logo taxado de doido e em muitos casos umas boas porradas deixavam o cabra bonzinho, até mesmo exorcizado. Depressão ou deprê ainda não constava nos pais dos burros da época e se o sujeito aparecesse com cara de choro, aí a coisa ficava feia para o lado dele, pois homem que era homem não chorava.
Hoje há uma imensa variedade de profissionais da medicina. É clínica de tudo que é jeito. O profissional que aplica injeção se for formado em determinado curso, só sabe aplicar um tipo de injeção: se for no braço - só aplica no braço o outro só na veia e finalmente o mais sério de todos que só aplica injeções nas nádegas.
Os médicos seguem os mesmos parâmetros. Quem examina hemorróidas só conhece ou se especializou em hemorróidas e se houver uma fratura e trouxerem o paciente a seus cuidados, ele logo pergunta: é na bunda, no orifício anal, se não for procura outro meu chapa.
Antigamente quando o médico tratava um paciente, se esse morresse o médico tinha consciência de ter feito o melhor e ainda sentenciava: morreu mas morreu aliviado.
Hoje, por exemplo, se você consulta um dentista a primeira coisa que ele lhe pergunta é qual o seu plano de saúde, se não tem, qual a forma de pagamento e só depois é que ele diz que tratamento você precisa fazer e dependendo do quanto você tem, pode sair com uma linda dentadura do consultório ou então banguela.

COMPARAÇÕES – Parte II


Mas voltemos à atividade física. Hoje se tem brinquedos eletrônicos de toda espécie e a baixo custo. É video-game, armas eletrônicas, skite, jogos eletrônicos, casas especializadas chamadas lan house e tantos atrativos. Jogos de contrabandistas contra policiais, simulações de roubo, estupro, assalto, seqüestro, assassinatos, corridas com as várias modalidades, aulas de boxe, capoeira, arrombamentos de casa, direção perigosa e uma infinidade de lições práticas para o convívio social de hoje e de amanhã, talvez.
Tempos passados a criança confeccionava seus próprios brinquedos. Normalmente era o aproveitamento daquela lata vazia de goiabada que se confeccionava com muito gosto aquele carrinho onde se pregava a lata ao cabo de uma vassoura e engendrava-se barbantes para simular o freio. Confecção de roletas com uma roda de madeira um cartucho de fuzil, pregos e números arrancados de um calendário antigo, artigos que davam trabalho de serem adquiridos.
Na atualidade quem dispõe de uma família rentosa, freqüenta academias, toma massagem, ingeri vitaminas, tomam "bombas", tudo para se manter em boa forma.
Na época atual aos três quatro anos a criança já namora, tem um relacionamento aberto com os pais e se lhes perguntarem de onde vêm os bebês eles dirão que gerados no útero materno serão expelidos através da vagina.
As crianças de outrora, na mesma idade, responderiam que as crianças ao nascer eram trazidas pelas cegonhas, pássaros parecidos com os urubus (aves) embora sua penugem seja branca. A propósito dessa ingenuidade, lembro-me agora de um fato que aconteceu em uma determinada época do passado em uma determinada escola:
" Certa vez uma escola pública receberia a visita de inspeção de um renomado professor que ocupava o cargo de Inspetor Federal das Escolas Primárias.
Os funcionários andavam a todo vapor preparando o estabelecimento de ensino para receber ilustre Inspetor e primar pela boa apresentação de sua Escola o que refletiria no bom desempenho de suas funções.
O Inspetor -professor era bastante rigoroso e imprevisível e de repente, de surpresa, tendo antecipado o dia da sua visita inspecional, apareceu de repente na escola e dirigiu-se, sem avisar aos professores, a uma das salas de aula. Ao adentrar o recinto foi recebido, involuntariamente, por uma "chuva" de bolinhas de papel que as crianças (alunos) atiravam uns nos outros.
A balbúrdia era completa, tinha criança até em cima do birô da professora que diga-se de passagem, estava ausente. O velho e experiente Inspetor ficou observando as crianças que absortas nas suas brincadeiras só depois de algum tempo perceberam a presença carrancuda do nosso inspecionante.
Sentaram-se todas mas ainda continuavam tensas, eufóricas e inquietas. Só uma criança parecia não compartilhar com aquela bagunça o que chamou a atenção do nosso inspetor. Ele , o inspetor, dirigiu o olhar à criança e indagou-lhe o nome. Meu nome é Pêdo, mas me chamam de Pedinho.
O inspetor lhe perguntou: onde está sua professora ? Pedinho respondeu: foi ao cagador. O inspetor sentiu um calor subindo da bunda pro pescoço com tamanha resposta mas entendeu que a culpa não era da criança e perguntou-lhe mais uma vez: o que ela foi fazer no banheiro ? Respondeu Pedinho: cagá , ôxe "
O inspetor ficou horrorizado com a última expressão usada por Pedinho e na reunião com a cúpula da escola mencionou o fato ocorrido e criticou duramente a falta de objetividade no ensino daquela dita conceituada escola.
Após a retirada do professor-inspetor ou inspetor-professor a direção tomou várias providências entre as quais direcionar os alunos para a preparação de uma nova e possível abordagem daquela natureza. Dito e feito.
No semestre seguinte lá vem de novo o nosso inspetor. Só que dessa vez o trabalho profícuo e laborioso de todo corpo docente havia preparado de maneira mais adequada os alunos. Diariamente um professor entrava na sala de aula simulando ser o inspetor perguntava aos alunos: onde está a professora ? E eles aprenderam a responder: foi ao toalhete. E perguntava: O que ela foi fazer ? Todos respondiam uníssono: foi atender a uma necessidade fisiológica.
Como da vez anterior, o mestre ladino que só ele, antecipou ,a visita e chegando sorrateiramente na maior surpresa admirou-se ou melhorar dizendo ficou perplexo com o que viu. As crianças todas sentadas, bem comportadas e para denegrir um pouco o quadro, a professora, mais uma vez, estava ausente. Ele ficou muito contente, mesmo com a ausência da professora, afinal suas exigências de certo modo estavam sendo cumpridas ao pé da letra.
Ele olhou para o final da sala, lá na última carteira, cabeça grande, olhos esbugalhados, nariz escorrendo, ar de espanto, aquele menino amarelinho, magro e logo, logo, o inspetor lembrou-se da outra vez que havia estado ali naquela sala e lembrou-se do menino e de seu nome e perguntou-lhe: Pedinho, Cadê a professora. E Pedinho respondeu: Ela foi ao toalhete. O mestre perguntou; o que ela foi fazer no toalhete ? respondeu: foi atender a uma necessidade fisiológica. O mestre, todo contente, muito bem, muito bem. Ela vai demorar Pedrinho? E o garoto, dentro da mais pura ingenuidade: acho que não, pois ela já saiu daqui peidando.
Por esse tipo de exemplo é que vemos o quanto a criança de outrora apresentava-se com uma certa ingenuidade no trato diário com as pessoas e no seu próprio desenvolvimento moral, intelectual, físico, etc.

COMPARAÇÕES – Parte I


Observo as crianças até sete ou oito anos de idade e fico querendo fazer comparações. Pergunto a mim mesmo: será que as crianças de hoje têm a mesma felicidade daquelas do meu tempo? Será que são mais felizes ? Aí me debruço no passado rememorando fatos por mim vividos e observados procurando uma resposta que me indique um resultado prático ou próximo de uma verdade.
Vejo as crianças de hoje freqüentando academias para crescerem robustecidas. No meu tempo de criança isso não existia. A robustez de cada um dependiam de suas brincadeiras com os pés descalços pelas ruas a correrem umas atrás das outras, sempre sorrindo, gritando alegremente com uma certa dose de inocência.
Os pais, uma preocupação constante, para que não se machucassem. A rigidez paterna diuturna para que não houvessem brigas ou xingamentos. O respeito aos mais velhos ou seja às pessoas idosas era ponto alto em suas educação.
Os palavrões eram repelidos com veemência. A timidez beirava à inocência. Sexo era uma palavra que indicava apenas se o ser era macho ou fêmea. Termos que hoje são utilizados principalmente por representantes eleitos pelo povo como: relaxar e gozar, eram abominados.
Credo, quem já se viu tamanho vitupério ! As crianças respeitavam e acreditavam nas pessoas de maior idade. Não conhecíamos a pedofilia, a pederastia como nos dias de hoje. Essa última , quando a criança do sexo masculino começava a andar nas pontas dos pés, um pequeno balançar nos quadris ao andar, a vestir as saias da mamãe, mesmo que de brincadeira, os outros pais já não deixavam seus filhos com ele brincar e taxavam aquela criança não como bambi, viadim, mandraque, Sidney Magal, escorregador de pepino, salto na vara, etc, mas sim como uma criança "doente".
A família que descobria em seu seio uma criança "doente" procurava logo interná-la num colégio de padre ou mandá-lo para lugar bem distante e difícil de voltar ao convívio familiar. A criança era educada com o lema de que homem que é homem não chora, não mente, não promete o que não pode cumprir, não engana seu semelhante e deve ser ao mesmo tempo durão com seus inimigos e brandos com as mulheres. Daí aprendiam logo cedo que em mulher não se bate nem com uma flor.
Quando por algum motivo uma criança tinha a necessidade de dormir na casa de outra criança amiga. Mesmo íntimos, se só houvesse uma cama, os dois dormiriam de ponta cabeça ou seja a cabeça voltada para os pés do outro e vice-versa. As meninas também observavam o mesmo procedimento. O "bom dia" , mesmo a um estranho , era sinal de educação.
Havia também os sítios, grandes sítios com pés de frutas variadas que inocentemente eram invadidas pelas crianças a fim de pegarem frutas frescas nos pés das fruteiras. Não chegava a ser um furto famélico e sim travessuras infantis.
Muito bem ! Depois dessas minúsculas lembranças dos tempos que se foram, fico observando de longe as nossas crianças de hoje: são espertas, inteligentes, desenvolvidas como se fossem um adulto daqueles tempos idos. Não respeitam os mais velhos, são espertas, ladinas, têm sempre uma resposta malcriada ou indecente na ponta da língua.
Certa vez entrei em um colégio particular aqui na minha cidade, daqueles colégios que cobram caro dos pais dos alunos e remuneram mal seu corpo docente, e em dado momento passou uma criancinha acompanhada de uma babá que parecia uma miss e não a babá-miss me chamou a atenção e sim o choro da criança que estava com ela. Não era um choro de mágoa mas sim um choro de revolta, de insatisfação, de ódio.
Eu me aproximei daquela linda criança e de sua linda babá e acariciando sua cabeça (da criança) perguntei-lhe com carinho: por que choras meu filho ! Tomei um tremendo susto, pois a criaturinha mimosa (a criança) me repeliu desesperado e foi me dizendo: " Cala a boca otário, bundão, nêgo filho da puta, quem foi que disse que sou seu filho. Vá pro inferno que lá é que é lugar de côrno. Se eu tivesse um pai feio que nem você eu botava a cabeça na linha do trem.
Eu, envergonhado, trêmulo, olhei para a linda babá procurando apoio e ela lindamente me retrucou: Bem feito por se meter onde não é chamado. Envergonhado busquei auxílio com os olhos aos professores que estavam do outro lado a assistirem a cena e todos olhavam para mim às gargalhadas.
Avaliei que aquela criancinha linda deveria ter no máximo uns quatro anos, não mais e mais uma vez fiquei pensando: será essa a educação que devemos dar aos nossos já que temos a utopia de que um dia teremos governantes sinceros, políticos honestos, militares cumpridores de suas missões com dedicação à pátria acima de tudo, professores atualizados, padres castros sem pedófilos, pastores que pregam realmente as escrituras e não o dízimo e tantas e tantas comparações que se continuar a discernir não tem celulose que confeccione tanto papel.