23 novembro, 2007

O VIZINHO


De repente estou sentado no sofá da sala de minha casa, quando num dado momento me vem lembranças de tantos vizinhos com os quais convivi durante anos e mais anos em casas e condomínios diversos.
Foram vários, incontáveis talvez, mas com todos sempre mantive relações de cordialidade e apoio, beirando a irmandade.
Quando se tem um vizinho cordato, amigo, de hábitos saudáveis, até sua segurança fica mais reforçada, pois, por exemplo, se você precisar se ausentar de seu lar por algum tempo, terá sempre a figura amável e vigilante de um de seus vizinhos.
Existem também os exageros como no caso de dois vizinhos que tive a algum tempo atrás e tendo a mulher de um deles de fazer uma viagem longa, pediu para a amiga vizinha que cuidasse de seu maridinho, o Raimundo. E ao voltar de viagem flagrou o seu Raimundo com a sua vizinha em colóquio amoroso ou seja fazendo love. A vizinha esposa do Raimundinho (era assim que a guardiã o tratava) alegou com a mais pura inocência que a culpa era dela, pois quando saiu disse para ela (a bobinha) tomar conta do maridão e ela nada mais estava fazendo do que cumprir suas determinações.
Mas no momento lembro-me em especial de um vizinho que coabitava com sua família ao lado direito da casa onde eu vivia, na cidade do Recife, em uma vila de casas localizada próximo à praia de Del Chifre, nas proximidades de uma outra vila militar, me parece, já que me foge a memória que era uma vila de militares que chamavam de vila naval..
Era um jovem afro-descendente ou afro-brasileiro (em outros tempos denominado crioulo) franzino, olhos verdes e aspecto de vivaldino. Sua esposa, um pouco rechonchuda gostava de tomar, de vez em quando, uma branquinha, em companhia de seu mui amado marido.
Eram um casal interessante, chegado a uma balada, mas desleixados com o asseio corporal dos filhos e da casa.
Lembro-me de ter visto a jovem senhora, alguns tantos de vezes, embriagada, com a janela da casa ou mesmo a porta da frente aberta, a trocar-se (de vestuário), oferecendo aos transeuntes cenas exóticas de strip-tease involuntário, dado seu estado de embriagues.
Por pertencerem à mesma categoria funcional que a minha, viviam, aparentemente com maiores dificuldades financeiras, já que eu recatado, não me envolvia em orgias ou noitadas.
Seus três filhos, menores, com três, quatro e cinco anos de idade, andavam quase que desnudos. O de três e o de cinco, eram meninas. O de
quatro anos era menino.
Quando aquelas criaturinhas saiam à rua e o faziam com freqüência, uma estava descalça e as outras duas cada uma com um pé de chinelo, um com o esquerdo a outra com o direito.
Quando um vestia short, calção ou calcinha, o outro ou melhor os outros estavam sem esse vestuário mas vestiam camisetas surradas.
Tem uma palavra na nossa língua, como dirão os Doutos, no nosso léxico que me faz lembrar a criancinha do meio, a de quatro anos, a do sexo masculino, que o leitor atento vai logo distingui-la.
Era um garoto, como todo garoto, simpático. Tinha a cabeça um pouquinho grande, as orelhas ditas de abano, o pescoço era fino, a barriguinha era bastante proeminente; os braços finos com articulações inchadas. As perninhas eram fininhas e os joelhos bem grossos. Tinha a bunda cheia de brotoejas. Estava sempre sem o calção, vestindo apenas uma camisetinha curta e surrada cheirando a mijo.
Seu nariz estava sempre escorrendo e como ainda não aprendera a se assear, normalmente sua nádegas apresentava amostras fecal.
Mas o que mais chamava a atenção de quem olhava para aquela criança, era sua genitália. A criança tinha um pênis que batia nos joelhos e os testículos murchos pareciam mais os de um ancião. Um observador desatento poderia até jurar que entre as pernas da criança nascia uma jibóia.
Na ponta da bilunga se expandia achatada uma formação parecida a um cinzeiro, tudo aparentando na criança, maior idade. Quem o via comentava: é o chapeleta.
Quase sempre que eu chegava em casa e a criança acima citada me via, me pedia quase em súplica: "me dê uma banana ! ". E eu atendia seu pedido. Um dia , e disso me arrependo muito, ao se aproximara de mim aquele inocente avantajado pedindo uma banana, eu, por estar muito irritado com alguns problemas de ordem particular, me irritei mais ainda e disse para minha mulher, em tom ameaçador: "traz uma tesoura que vou cortar a metade dessa aberração. E o coitadinho chispou dali e nunca mais me pediu qualquer coisa e quando me via corria para a casa dele assustado. É claro que me arrependo até hoje de feito tamanha grosseria.
Era engraçado e ao mesmo tempo assustador pois você, mesmo sem querer, ao olhar para a criança se deparava com algo diferente do que normalmente a natureza oferece.
Não recordo mais o nome daquela criança nem o nome de seus pais, mas lembro-me bem quando a mãe sentia a ausência de seu pimpolho, ela gritava por ele na janela, bem alto, para que de longe ele pudesse ouvi-lá: C A C E T Ã O........
E é aí leitor que diante do qualificativo acima mencionado, lembro-me do cacetão e tenho vontade de rir.
Qual seria sua reação se um dia desse de cara, inesperadamente, com o filho do meio (filho do vizinho), o de quatro anos ?
Mas, seja qual for sua reação, o fato é que o amigo (a) deve seguir a minha linha de procedimento. Seja um bom vizinho, pois, um dia, talvez você seja lembrado por mim.

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