26 novembro, 2007

Maçã bichada





No início havia mais clareza, mais objetividade, mais concisão. O macho era macho mesmo e a fêmea, essa também, era fêmea mesmo.
Era quatro horas da manhã quando pela primeira vez Adão sentiu o cheiro da maçã e até hoje, não se sabe ao certo se foi Adão que comeu a tal maçã, se foi a maçã comida pela cobra, se foi a cobra que comeu o Adão ou se foi Adão com raiva que pegou na cobra e introduziu-a na maçã ou se não foi Eva que inventou tudo isso.
O que podemos afirmar é que Adão era mesmo macho (Yang) e Eva é claro, era fêmea (Yan) e que na natureza, desde a origem, pólos iguais se repelem e sempre irão se repelir (será ?) e pólos diferentes vão se atrair. Após nove meses, depois daquele mal entendido, Eva paria Caim e Abel, ambos positivos (Yang).
Quando nasceram Adão mais orgulhoso com o fato, mais que Eva, em pleno gozo de suas prerrogativas patriarcal, apontava para os rebentos e segurando na cabeça da cobra, gritava para ela: é macho...´´e macho.... Mais filhos tiveram e igualmente, de acordo com as circunstâncias, continuaram a gritar , é fêmea, é macho,. Quando era fêmea quem pegava na cabeça da cobra era Eva. A coitadinha, a cobra, com o tempo de tanto um e outro pegar, já vivia de cabeça inchada
Fora dos portões do Jardim do Éden. os dois, Adão e Eva, suavam lutando pela sobrevivência, mas assim mesmo estavam felizes que podiam continuar fazendo sacanagem que no futuro seria denominada de amor.
Séculos e séculos se passaram e me debruço sobre o passado espreitando o futuro vendo no presente tamanhas transformações e deformações.
As cobras de hoje já não têm aquela preferência pelas maçãs ao ponto de gerarem conceitos cada vez mais sombrios de que é, nos dias atuais, cobra engolindo cobra.
Os casais de hoje contrariam as leis básicas da natureza e pólos idênticos já não se repelem e a cada tempo que passa se atraem cada vez mais. Antes Adão casava com Eva ou Eva e Adão se atraíam. Agora é João com João, Mane com Mane, Maria com Maria e assim por diante.
Os Adãos e as Evas do passado se enchiam de planos, durante a maternidade, sendo que um queria que o rebento fosse macho e o outro, quase sempre, desejava a fêmea.
Hoje, ao desejo curioso dos fatos, junta-se a realidade mórbida de um planejamento mais intenso: - um quer que seja macho o outro fêmea e em alguns casos, que está se tornando maioria, dão preferência a que seus rebentos venham a ser bicha, veado, baitola, bambi, boneca, fresco, viadim, engole cobra, mandraque, gay, sapatão, entendida, lésbica, simpatizante, etc..
Infelizmente ou talvez não, já não se fazem Adãos e Evas como antigamente e as maçãs estão inchadas nos pés à espera da cobra que possa um dia vir a lhes comer.

Só Sendo milagre




Era final de noite, início de uma madrugada em um dia próximo ao final do mês de novembro.O ano: mil novecentos e noventa e sete.
Toda minha vida até agora tem sido cheia de dúvidas quanto ao aparecimento de milagres, curas espirituais, aparições, alma do outro mundo, chupa cabras, chupa isso, chupa aquilo outro etc.
Já escutei e li tantos relatos sobre esses fenômenos que no decorrer dos anos se tornaram mais sofisticados, mais explorados, mais difundidos e também muito mais confusos.
Naquela noite eu havia me deitado cedo, como habitualmente o faço e lá pelas tantas acordei e após tantos e tantos pensamentos, projetos, planejamentos, resolvi ligar o aparelho de TV e lá estavam dois boxeadores defendendo um título qualquer, muito importante para eles e para os aficionados do esporte nessa modalidade.
Eram um lutador George Foremam, quarenta e oito anos de idade, não sei quantas vitórias, cento e dezenove quilogramas de massa com mais gorduras que músculo. E o outro o desafiante, não percebi bem qual era o nome dele, era algo parecido com Xernobiu ou Serrambiu. Era um lutador mais jovem, aparentando menos peso que seu adversário mas sua compleição era atlética.
Enquanto o primeiro lutador apresentava um corte de cabelo tipo Ronaldinho, o que diga-se de passagem combinava com o restante de seu visual, o segundo usava um cavanhaque tipo doutor Silvana, aquele arqui-inimigo do Capitão Marvel, e um corte de cabelo esquisito. Parece que esticaram o cabelo do negão (ambos eram negros ou afro descendentes ), colocaram uma cuia de queijo na parte superior da cabeça e no alinhamento de cima para baixo passaram uma máquina zero. Depois pintaram o cabelo do desafiante de amarelo ouro e fizeram um rabo de cavalo para cima, preso com uma Maria Chiquinha, Ficou uma gracinha.
Mas, voltemos ao assunto inicial que é a crença ou não em milagre ou por melhor dizer, a minha crença.
Foram doze assaltos com os habituais intervalos para descanso.
Foi um massacre do primeiro ao último assalto. Shernobiu fugia do combate o tempo todo. Foreman perseguia o adversário indo para cima dele como um touro zangado, um trator, um tanque de guerra e o outro é claro , mais jovem, fazia umas firulas na frente do adversário e apresentava apenas aquele magro espetáculo, de sua parte, o box feijão com arroz.
Finalmente veio o término da luta ao final é claro do décimo segundo assando ou round.
Creio que o mundo todo, através das transmissões por satélite estavam assistindo (os adeptos) àquela luta e creio que todos eram unânimes em conceder a vitória a quem realmente vencera a luta e que não fora o Xernobiu ou Serrambiu.
Mas, para aumentar minha dúvida sobre milagres, veio o resultado
Aí, pasmo, lembrei-me de um deputado brasileiro que para não ser cassado renunciou honrosamente ao mandato e já há rumores de sua volta ao cenário político nacional. É o mais famoso ou dos mais famosos anões da previdência ou melhor dizendo do orçamento ( são tantos os anões que até confundem a gente ), o ex-deputado Ilmo. Sr. João Alves.
Mas, qual a ligação entre o ex-deputado João Alves , Foreman e Xernobiu, você curiosamente me perguntaria ?
E eu lhe respondo com muita firmeza, com segurança: - o milagre.
No auge de sua carreira política o ex deputado ao ser interpelado por um repórter como conseguira ganhara tantas e tantas vezes na loteria esportiva, esse lhe respondeu:
- foi Deus, foi Deus que me ajudou e deu aquele risinho de homem bastante devotado.
Pois mesmo sem entender uma só palavra em inglês, percebi, pelo sorriso do lutador Xernobiu, que, quando o repórter americano lhe perguntou sobre a vitória que acabara de obter, ele respondeu: foi Deus que me ajudou e aquele sorriso já descrito anteriormente.
Continuo acordado e sonhando com os olhos abertos e imaginando se um dia o Deus do João Alves, o mesmo Deus do Xernobiu, estando de plantão, olhará para mim e dirá: hoje você o meu escolhido.
Aí quem sabe, eu também passarei a acreditar em milagres.

A Governanta





Um certo dia encontrava-me em um país distante do meu e talvez por isso a melancolia se acercava de mim. O país para seu conhecimento era a Áustria e eu me encontrava próximo a um monumento que reverenciava fatos históricos dos antepassados daquela gente tão hospitaleira.
Absorto e melancólico não percebi que um vulto se aproximava de mim e ao deparar-me com o detentor do vulto, a princípio me assustei, mas fui retomando a calma após identificar de quem se tratava.
Era uma jovem muito bonita de pele bronzeada pela maneira como vivia, quase em total liberdade dentro da natureza. Tinha um lindo par de olhos de íris acinzentada, lábios carnudos, pernas torneadas e apesar da veste bastante composta, deixava transparecer na linha da cintura umas belas curvas.
Isso tudo me despertou a atenção em poucos segundos, sendo que um outro fator me chamou ainda mais a atenção, pelo fato de que ela trazia carinhosamente nos braços um linda criança.
Era uma cigana, uma linda cigana. Olhou para mim com um olhar doce e penetrante, como se lesse a minha mente. Perguntei se ela estava querendo ler as minhas mãos e ela respondeu que não. Indaguei-lhe então sobre a criança e ela não soube ou não quis me informar se era filha ou apenas estava conduzindo- á a pedido da mãe.
Bem, se não queria ler a minha mão, perguntei-lhe então se queria ajuda financeira, alguns trocados. Ela disse que sim, não estava esmolando e para fazer jus ao que eu viesse a lhe dar, me contaria uma estória local Concordei, pois já me sentia melhor da melancolia e também a minha curiosidade estava a todo vapor. Ela iniciou o relato assim:
" Aqui mesmo, neste país, nesta cidade, viveu um homem muito rico e poderoso. Dirigia seus negócios com mão de ferro e nunca perdoava seus competidores ou oponentes.
Nunca se casou porque tinha medo de amar a alguém e com isso ter que partilhar seus bens adquiridos com tamanho esforço.
Envolveu-se em tudo que foi negócio limpo ou escuso não importando a quantos causaria infortúnios.
Dentro da alta sociedade era respeitado e admirado.
Pois bem; esse homem aspirava um alto cargo político dentro da governadoria de seu Condado, mas um pré-requisito para alcançar tal posto era que o pretendente tivesse um filho homem que na falta do pai ocuparia seu lugar vitalício.
Esse homem tinha sob sua responsabilidade duas camareiras jovens que lhe prestavam todo tipo de serviço por boa remuneração.
Diante de sua necessidade de apresentar à sociedade um herdeiro, coabitou com a mais jovem das camareiras lhe prometendo as maiores vantagens que uma pobre camponesa como aquela jamais poderia conseguir.
Quando a criança nasceu a governanta mãe já não tinha certeza de que mereceria do patrão-marido a atenção que lhe fora prometida e começaram os desentendimentos.
Um certo dia estando em companhia do patrão reivindicando algumas de suas promessas, aproximou-se deles uma cigana com um bebê no colo. Ela estava muito maltrapilha e exalava odores desagradáveis. Aproximou-se mais ainda e tocando no braço do implorou uma ajuda. Ele repeliu a mulher, empurrou-a para cima de uns sacos de lixo amontoados e com toda irritação que se possa imaginar gritou: odeio pobre, Sua fiel camareira-camponesa-mãe, que apesar do patrão não desconfiara, era também uma judia. Sentiu-se horrorizada e arrependida pelo fato de conceber uma criança daquele insensível homem.
Alguns dias após esse pequeno incidente, o pai da criança organizou um jantar para casais membros da corte, para que, durante a recepção ele apresentasse seu lindo rebento, herdeiro oficial e possível causador de sua nomeação para cargo tão ambicionado.
Por ocasião do jantar, em determinado momento, a mãe da criança, tomando-a nos braços saiu pelos fundos da casa e passou a divagar pelas ruas com a criança no colo sem destino determinado.
Minutos após o anfitrião anunciou que iria apresentar seu filho aos convivas. Mandou que a outra governante fosse buscá-lo. Ao chegar ao quarto do recém-nascido a segunda governanta não encontrou o bebê no berço e olhando pela janela pode avistar ao longe que a mãe estava fugindo com a criança. Ela empreendeu perseguição à jovem mãe, quando de repente, esta parou à beira de um penhasco e se atirou ao mar juntamente com a criança. A governanta , a outra, assistiu a tudo petrificada, quando de repente percebeu um vulto atrás de si e ao virar-se deparou-se com uma cigana suja, maltrapilha, mal odorizada e com uma criança nos braços.
A governanta olhou para ela, tirou do cós de sua saia uma bolsa contendo suas economias em moedas de ouro. E num lance de brilhante inteligência, próprio das governantes, trocou com a cigana, que era a mesma judia citada anteriormente, as moedas pela criança.
Voltou apressada asseou o garoto judeu filho da cigana, vestiu-o e apressada e ofegante levou-o à presença do patrão e seus convidados.
O patrão bem que notou a troca mas não poderia questionara o que estava havendo, pois ambicionava muito aquele cargo.
Todos acharam, mesmo com falsidade, que era uma criança linda. E um dos convidados ilustre quis saber do pai qual seria o nome que ele daria à criança.
O pai todo orgulhoso respondeu: Adolfo Hitller"."