25 novembro, 2007

A educação contemporânea


Os dois se conheciam de longos e longos anos sem que no entanto houvesse uma proximidade entre eles., Quando crianças moravam no mesmo bairro; um na sua quase mansão, outro na sua humilde casinha que lhe parecia ser também uma bela mansão.
As suas mamães se conheciam de vista e se referiam uma à outra como a mãe rica e a mãe pobre. A pobre, sofrida, humilhada, passou todo seu tempo a lavar, passar, cozinhar, costurar, etc, para seu marido e filhos.
Trabalho árduo o de dona de casa: mãe, conselheira, esposa, mestra, pacificadora e demais funções extra curriculares que são atribuídas às zelosas e dedicadas mães. Uma
economia aqui, outra ali, um remendo numa calça, numa cueca, um engraxar, um espanar e aí por diante.
Com tantas tarefas, à mamãe pobre ainda sobrava tempo para com extrema paciência cuidar dos estudos de seu caçula que se iniciava nas primeiras letras. Por viver tão modestamente o nosso herói pobre quase não tinha brinquedos e sua preferência era por um velho aro de pneu (roda) de bicicleta que na sua imaginação era o carro.
Voltando um pouco à mamãe pobre, façamo-lhe justiça e acrescente-se ao seu curriculum que ela era (continua sendo) um poço de virtudes, bondade e honradez.
Agora passemos à rica, à mamãe rica,. Era forte, bela, olhar dominador, sexy, gestos espalhafatosos, filantropa (desde que fosse comentada nas colunas sociais e ficasse com parte das doações), tinha entre outros apelidos o de Abrigo de Velho, pois segundo línguas venenosas e ocultas, ela era uma pessoa que "dava muita sopa".
Nunca tinha tempo para o maridão que não se sabe até hoje porque ele andava
sempre de cabeça baixa, como se algo tivesse pesando no seu frontal e não o deixasse erguer a cabeça
As babás se encarregavam das crianças, as copeiras da copa, as cozinheiras da cozinha e assim por diante, cabendo-lhe (à mamãe rica) árdua tarefa de administrar com mão de ferro aquele exército de empregados e empregadas.
O estudo de seus filhos e em especial o do caçula ficava a cargo dos mestres e mestras que operavam em turnos remunerados..
O caçula pobre, esmerado, educado, tímido, obtinha as melhores notas mas nunca atingia a primeira colocação. O caçula rico, relaxado. Displicente, extrovertido, mal criado, não se importava em estudar mas, não se sabe explicar ou não se queira explicar, era sempre o primeiro da turma.
Como fica impossível falar das mães sem se referir ao outro lado da moeda vamos nos reportar um pouco aos seus respectivos papais, pois nossos heróis também gozavam um pouco da companhia de seus progenitores.
O pai rico, embora ninguém falasse na sua presença, era batizado pelos amigos e vizinhos com o pseudônimo de xifronildo. O pai pobre de Simplório.
Quando Xifron ( forma carinhosa de xifronildo) chegava em casa era sempre cansado, mal humorado, deprimido e quase nunca ligava para os filhos ou lhes acenava com qualquer tipo de carinho, embora cobrisse-os de presentes caros, brinquedos eletrônicos, viagens turísticas, etc. Apelidava carinhosamente seu caçula com um pseudônimo muito sugestivo e um tanto quanto forte. Quando chegava e não estava tão aborrecido chamava-o pelo apelido para que ele se sentasse em seu colo e lhe dizia meigamente: " senta aqui no colo do papai brinquedo do cão".
Brinquedo do cão carinhosamente lhe atirava um objeto qualquer e quase sempre lhe quebrava os óculos e quando não o feria na testa, acertava sempre uma pancada entre as pernas.
Já o pai simplório nada trazia para o filho em matéria de brinquedo. Quando as coisas melhoravam um pouco costumava lhe presentear com uma banda de rapadura que acreditava iria ajudar no fortalecimento da dentição. Mas ao chegar em casa ficava muito feliz vendo seu caçula crescer brincando quase sempre a empurrara um caixote de madeira e gritar : " Olha o lixo aí gente ! ".
Ele se enchia de brios e pensava: esse aí tem futuro, ainda vai ser gente.
Papai rico, apesar da carranca e olhos cabisbaixos, às vezes trazia fitas de vídeos para o nosso querido riquinho e à medida que iam assistindo à àquelas fitas didáticas como por exemplo, predadores da natureza, a baleia assassina, o tubarão sanguinário, carcará sanguinolento, ia lhe fazendo ilustrações, comparações, iniciando-o no mundo competitivo dito financeiro e globalizado.
Já Simplório ao contemplar seu pimpolho na sua imaginação infantil, sonhando em ser útil à sociedade através das profissões ora de lixeiro ora de coveiro, tirava uma cordinha do bolso de trás da calça, passava no pescoço do pobrinho e saía brincando com ele horas a fio, cada um dando as maiores risadas, não se sabendo quem aestava mais feliz, se pai ou filho.
Era para ambos os pais momentos inesquecíveis de alegria e raro prazer, quando estavam na companhia de seus caçulas.
Certa vez houve a oportunidade de reunir nossos dois personagens, o rico e o Pobre, em uma festinha de aniversário, sendo ambos ainda muito infantis. Mamãe pobre, mesmo estando toda feliz pelo convite, ficava aflita só em pensar que seu filho pobre poderia causar má impressão perante os demais convivas e recomendara à exaustão que ele se comportasse bem. Que nada pedisse e se lhe oferecessem algo, aceitasse com parcimônia. Se mantivesse longe do bolo pois temia que, sendo pobre, qualquer erro, engano, falha, seria creditado à falta de educação que tinham os pobres. Mamãe rica não fez nenhuma observação a seu caçula, apenas mandou sustar o jantar, pois com o estômago vazio seu queridinho ia "lavar a égua" como todo bom "boca livre".
A festa transcorreu na maior animação .Mamãe rica divertiu-se a valer com a falta de jeito e cultura da mamãe pobre. No íntimo tinha até pena dela, coitada: acabada, embora tivessem a mesma idade, mãos cheias de calos, pudica, dizia nunca ter metido um chifre sequer no marido, que era quase idolatrado por ela. E a pobre ainda se orgulhava de ter um marido honesto nos tempos de hoje.
Na hora do bolo foi aquela algazarra com as crianças mais bem educadas financeiramente invadindo tudo e se apossando no peito e na raça de seu pedaço cada vez maior.
O nosso pobre herói ou herói pobre não se mexeu do lugar obedecendo aos bons princípios da boa educação que emanavam de sua pobre mãe.
Ao final da festa o nosso herói rico e sua mãe estavam felizes e radiantes. O nosso riquinho quase não podia respirar de tanto ter comido bolo e tudo mais que tivesse podido comer. O pobre, coitado, naquela noite foi dormir com a barriga batendo nas costelas, pois nem um naco de bolo teve oportunidade de provar.
E assim cresceram os nossos heróis. Um Parcimonioso, educado, estudioso, honesto, eficiente, o outro, mandão, preguiçoso, ladino, maldoso, vil e ganancioso.
Como naquela festinha infantil quis o destino que os dois voltassem a se encontrar numa fase bem adulta.
O rico, presidente da firma, o pobre, o simples funcionário.
O rico, rosado, forte, belo, altivo, soberbo, ares de autoridade, espartano, olhar duro e insensível.
O pobre, pálido, fraco, de beleza exótica, cabisbaixo, submisso, troiano, timidez no olhar.
Os dois estão agora frente a frente. Um a reclamar e esbravejar e o outro apenas assentindo ou meneiando a cabeça que já começava a rarear os cabelos.
A mamãe rica, agora uma velhinha virtuosa, casta, cândida, observa aquele encontro com muito orgulho e pensa radiante de felicidade:" Fui eu quem o educou!".
A mamãe pobre, aparentando ser muito mais velhinha, alquebrada, doentia, amargurada, de fora da sala também observa a cena, balança a cabeça, fica um tempo contemplativa e finalmente olha para o céu e diz ; " Ó Deus, onde foi que errei ?

Vamos às Urnas


Ligo a TV e de repente, diante da tela, é aquela explosão de indignação contra determinado parlamentar que mentiu, enganou, falsificou, estuprou, lavou dinheiro, contrabandeou, fez misérias, explodida, ou por melhor dizer proferida por um de seus pares, constrangido pela prática abominável daquele que eleito pelo povo não soube conservar o decoro necessário à boa imagem de um profissional da política.
Como leigo, influenciado pelo que assisto através da televisão escuto no rádio e leio nos jornais, fico pensativo e me vem à mente, não sei por que, uma frase que ouço desde criança e cujo significado até hoje não consigo entender. "macaco não olha pro rabo".
O tempo todo, mesmo que estejamos sozinhos, alguém pode ou está nos vendo ou observando. Se fizermos algo de errado, alguma pessoa pode perceber, pode nos delatar e aí seremos punidos por nossos erros.
Será que numa comunidade, seja ela qual for, o sujeito possa fazer tanta coisa errada, isoladamente, sem que alguém não saiba ? Acho que não. Acredito mais na conivência, na parceria, no envolvimento, no "rabo preso".
Mas mãe assim mesmo, quando o barco afunda, os primeiros que tentam se salvar são os ratos. É o instinto político de cada um. Vamos sacrificar o "boi de piranha" antes que alguém bata com as línguas nos dentes e a maré passe a virar para o lado de cá. É indignação demais, protestos dos mais exaltados, revolta, nojo e promessas.
E com o passar dos tempos nenhuma providência será tomada, as promessas serão esquecidas, as indignações darão lugar às admirações, novas aviltantes ações serão cometidas, coligações se formarão, o infrator perdoado por ter provado sua "inocência", restando aos ofendidos e aos perdedores o choro do "leite derramado".
As declarações sensacionalista conterão a indignação real da opinião publica. Dá-se a impressão que alguma medida seria poderá ser tomada e nos bastidores serão tricotadas as verdadeiras negociações cujo lema básico se resume no ensinamento fatídico de que "é dando que se recebe".
O parlamentar execrado jura inocência, apresenta suas melhores obras, culpa os invejosos, os incompetentes, apresenta defesa, ganha tempo, tem também tempo para fugir, mas não o faz só em ultimo caso, quando foge para outro país e divulga a cultura do seu povo dentro do melhor padrão nacionalista, e quando a poeira esta acentada, tudo esquecido, volta ao seio de sua base parlamentar e como herói, recomeça tudo de novo.
Mas, o que fazer para mudar tudo isso? O que fazer para sermos bons parlamentares? verdadeiros defensores dos interesses do povo? É tarefa fácil? A resposta só pode ser não. Não, porque está arraigado no caráter de nossos políticos a lei de Gerson, a da vantagem, as leis das impunidades, da calunia, da trapaça, da mentira, da intriga, da soberba e tantos outros qualificativos possivelmente já herdados de seus antepassados. Porém existe um meio muito simples de aos poucos modificarmos nossa postura diante de tudo isso, nosso destino.
Faz muito tempo, muito tempo mesmo, que em época de eleições, até mesmo durante o regime militar, os políticos são sempre os mesmos. È deputado fulano, vereador sicrano, prefeito beltrano, etc e esses, sempre no poder, não fizeram mais que, por esperteza ou incompetência, dilapidarem nosso patrimônio, dificultarem nossas vidas com lei e mais leis de interpretações dúbias que só os beneficiam. Uns defendem os interesses da indústria do frango, da galinha, outros já defendem a dentadura, outros os usineiros, os banqueiros e vai por aí uma lista infinita de interesses em benefício de uma minoria cada vez mais forte e mais rica, enquanto se avolumam por todo o país, os bolsões de pobreza.
Na hora de se elegerem, como candidatos, tudo prometem. Quando eleitos tentam induzir a opinião pública de que suas responsabilidades não somente suas (antes o era) mas sim de toda a sociedade.
Acredito que a hora é essa. O escrutínio se avizinha e podemos através dele darmos o grito de independência, o basta em tantos desatinos.
Vamos votar, mas votar com consciência política e para isso precisamos observar, pesquisar, escutar, discutir, relembrar em especial, e mesmo assim votaremos mal, mas menos mal e a cada vez nos aprimorando em termos de votação e escolha dos candidatos, um dia quem sabe, estaremos votando bem, na pessoa certa, no parlamentar puro, honesto, trabalhador, sensato, a antítese da grande maioria atual.
E no futuro, ao ligar a TV, você por certo só escutará elogios de parlamentares e sobre parlamentares. E ao ouvir tais comentários se orgulhará e dirá: eu votei.

Unanimidade




Sou uma pessoa cheia de complexos. Desde criança sinto ser um ser diferente dos demais seres humanos. Hoje resolvi, depois de tantos anos de vida, comparar o meu cotidiano com o seu amigo leitor, e verificar se sou realmente único ou temos algo em comum.
Dizem os contemporâneos de meus pais que quando nasci alguém lá dos altos das nuvens mandou que a forma em que eu teria sido moldado fosse imediatamente destruída, o que me tornou uma unanimidade. Dizem os mesmos que eu era lindo, bochechudo e nos primeiros dias era loiro e os cabelos pareciam com os cabelos das bonecas de milho. Meus olhos eram azuis, embora quase não fossem vistos devido aos inchaços de minhas pálpebras. Ao terceiro dia meus cabelos loiros caíram e no local brotou uma carapinha preta. Os olhos se acastanharam, as bochechas cresceram mais ainda e comecei a eliminar gases fétidos pelo orifício anal, até hoje.
Também no terceiro dia não me contentava com mingau ou mamadeira, queria mesmo era caldo de sururu , refresco de jaca, sopa de caroço de pitomba, rapadura líquida e adorava bunda de tanajura frita.
Dizem também que devido a uma febre alta que me deixou com a retaguarda cheia de
Crateras, estando quase moribundo, pois as moscas já pousavam dentro dos meus olhos depositando seus óvulos e nada de eu oferecer qualquer tipo de resistência.
Nesse estado doentio fui levado à presença do padre da paróquia local, o padre Pinto, à época considerado um tarado e se fosse hoje era pedófilo.
O bondoso e safado padre olhou para mim, depois para a minha mãe, e disse-lhe: leve-o de volta. Se daqui a mais três dias ao jogá-lo na parede, se ele não latir, traga que eu batizo.
Fui batizado, cresci parecendo um espigão e finalmente fui para a escola estudando somente o PI (primário interrompido) com média sofrível. Toda vez que tirava nota escolar acima de cinco era muito elogiado em casa e recebido a bolo de fubá com chá preto..
Todo tipo de obstáculo tive que transpor durante a infância e a adolescência. Tímido, soturno, cabisbaixo, quase não me envolvia em qualquer tipo de encrenca, as encrencas é que gostavam de mim. Os bonitinhos, os filhinhos de pais mais aquinhoados sempre que cometiam uma travessura e eram descobertos punham a culpa em mim. Como era bobo não sabia me defender e sempre pagava o pato pelos outros. Era um bobalhão, um Mane, um Zé, e porque não dizer um Zé Mane.
Dizem que o homem nasce, cresce fica abestado e se casa. Comigo também foi assim. Casei-me e fui muito feliz. Logo nos primeiros dias minha mulher me deixava dormir debaixo da cama com o cachorro mas com a continuidade daquele feliz casamento fui parar no sofá da sala. Minha esposa muito amorosa me incentiva muito em todos os aspectos. Quando quero comprar um objeto barato para mim, ela, muito econômica, sabendo que o produto não vale a pena, não me deixa desperdiçar dinheiro, só devo gastar com coisas boas para ela e para os filhos, os irmãos, os cunhados, os vizinhos, etc.
Ficar irritado, nem pensar, pois se eu fizer uma grosseria, e às vezes eu o faço, contra qualquer objeto ela fica ressentida por demais e ameaça botar a mãe dela dentro de casa para protegê-la, ou seja, mais uma boca.
Desde a época do namoro até a data de hoje, minha mulher cultua o bom hábito de estar sempre me comparando com os outros. Diz ela : fulano ganha o mesmo que você, é raparigueiro, trapalhão, cachaceiro, safado mas na casa dele não falta nada, lá tem tudo do bom e do melhor, neuzinha todos santo dia faz as unhas, vai a cabelereiro
sempre, já suspendeu a bunda três vezes, e aqui em casa é esse misere. Pra comprar uma coisa pra dentro de casa é o maior sacrifício. Fulaninho se aposentou mais ta aí trabalhando, até coveiro já foi pra ganhar um dinheirinho a mais, só você é que vive aí chocando os ovos. Se eu soubesse que você era tão incompetente, teria me casado com Tonhão das coisas grandes, esse sim é maridão. Ainda essa semana cobriu a Zenaide, aquela rapariga, no cacete. Você só vive suado, basta lavar minha dúzia de pratos que fica com esse perfume de macaca.
Fogão, geladeira, sofá, cama, televisor, já comprei tantos que perdi a conta. Ficou velho compra-se outro, não importa o quanto eu esteja endividado, e contempla-se a um parente mais pobre com o usado quase novo. Quase sempre ainda atenho que pagar as despesas com transporte , o frete.
Quando reclamo de qualquer tipo de dor vem logo a resposta na ponta da língua: não sou médica nem veterinária, procure um doutor. Também vocês homens são uns frouxos, qualquer dorzinha é essa frescura todo. Tem gente que vêm ao mundo só pra dar trabalho pos outros.
A vida sexual do casal deve ser preservada e me abstenho de aqui relatar alguns pormenores que por certo é comum a todos os casais, principalmente no que se refere à vida íntima, sexual, pois tendo me casado virgem(donzelo), de imediato entrei para a sociedade dos P. D. ou seja Perus Domésticos. Mas guardo com muito carinho aquela primeira vez, pois a primeira vez, dizem , a gente nunca esquece.
Entramos nos aposentos nupciais com certo nervosismo e timidez. Mas ao apagar-mos a luz o clima seguiu como o combinado. Nos despimos no escuro, deitamos um ao lado do outro e eu me cobri com um lençol. O lençol tinha um buraquinho redondo por onde deixei passar as coisas e ela se deitou por cima e botou um travesseiro na minha cara (até hoje não entendo porque) e daí pra frente, quando descobrimos o caminho das pedras, foi só cachorrada que hoje vocês chamam de love.
Acho que me alonguei demais na parte do casamento, mas quero falar alguma coisa sobre os filhos. Foi um viver no paraíso; apareceram sempre nas épocas mais incovenientes, de maior aperto financeiro. Mas foi uma bênção. O primogênito se parecia muito comigo, exceto o sexo, pois o menino desde pequeno já apresentava o membro tão avantajado que ao nascer a parteira já comentava: deve ser filho de jumento. Logo, logo , recebeu o pseudônimo carinhoso de cacetão.
Era uma criança linda e meiga; desde cedo aprendeu a atirar objetos em mim e carinhosamente me quebrou seis óculos.
Cresceu lindamente preguiçoso. Podia estar feliz como fosse, mas se falasse para ele a palavra trabalho, a criança já um jovem, arrebentava tudo que tivesse em sua frente. Infelizmente aos quarenta anos de idade resolveu sair de casa e foi cuidar zelosamente de sua vida. Hoje vive muito bem,, graças ao criador e só deve a duas pessoas
: Deus e o mundo.
O segundo filho era ou melhor dizendo é fêmea. Diferente do irmão gostava de trabalhar e pouco de estudar. Cedo deu-nos um grande desgosto e saiu de casa para viver por conta própria. É raro o mês que não me pede ajuda. Sem querer elogiar e ao mesmo tempo elogiando, dá-me a impressão que é meio tranbiqueira.
O terceiro filho também uma fêmea é um amor de criatura. Enquanto o primogênito ao ouvir a palavra trabalho só faltava destruir o prédio essa é mais especializada. Não é chegada a um trabalho mas em compensação se disser vá estudar, ela roda a baiana, quebra tudo e se eu levantar a voz ela diz logo que se me bater ela dará parte de mim na delegacia da mulher pois é pra isso que existe a Lei Maria da Penha
Às vezes durante todo esse trajeto me revoltei sabendo estar com a razão, mas minha adorada esposa logo me recriminava. E me fazia entender que o errado sempre sou eu.
Sempre fui meio calado, meio metido a machão, não ,admitindo umas certas modernidades, mas por sobrevivência tenho ,admitido coisas que no passado recente, talvez não admitisse.
No presente momento questiono ao amigo leitor mais uma vez, se não estou certo em querer comparar a minha vida à sua.
Vou relatar aqui apenas uma pequena parte dos últimos episódios que recentemente me vejo envolvido.
O terceiro filho, que é uma filha, está namorando, segundo ela e a mãe, pela primeira vez. O jovem bem apessoado, mal educado, sem eira nem beira, um Zé ninguém, foi entrando com ela aqui em casa calado, de cara fechada, sem ao menos me cumprimentar, dizendo elas que era apenas amigos. Me senti como sendo porteiro da casa da mãe Joana. Começou o namoro até oito, nove da noite e foi se alongando. Hoje ele só vai para casa depois que eu me aborreço e lá pelas duas da madrugada.
No início era um copo com água; depois veio o cafezinho, o café com leite, o pingado, o pão na manteiga,. Veio o almoço, o jantar, o lanche das dez e das quinze horas e a ceia das vinte e uma horas.
Fui agraciado com mais um comensal, mais uma boca e que boca !
Outro dia comprei uns pães de queijo de minas e como são glutão, lá pelas tantas quase fui expulso de casa pois comi dois dos pães que estavam reservados ao futuro genro.
Agora tenho que ir mais vezes aos supermercados; tenho que comprar mais gêneros, lavar mais pratos, dormir mais tarde e o que está me irritando mais, embora eu esconda esse sentimento pernicioso de meus familiares, é ter que todas as noites , religiosamente, antes de me deitar ter de desentupir o vaso sanitário, entupido pelo futuro genro.
Volto às minhas primeiras linhas e retomo a pergunta inicial: sou ou não sou "sui-gêneres" ? Ou será que sou apenas um lugar comum como todos os outros seres humanos e em especial pais e maridos ?
Você avalia e decide.

Recordações de uma adolescente


Estava um certo dia caminhando pelas ruas do bairro em que morava juntamente com meus pais e meus irmãos, quando de repente apareceu na nossa frente uma senhora com trajar diferente do normal, com saias rodadas, umas sobre as outras, rosto com maquiagem bastante carregada, cílios longos e postiços, o que para mim, ainda uma criança, me deixou um pouco amedrontada, mas ao mesmo tempo curiosa.
Tratava-se, como vim mais tarde a saber, de uma cigana. Queria a todo custo ler as minhas mãos. Eu não entendia e ficava cada vez mais assustada, apesar da companhia de meus familiares.
Controlando meu nervosismo e mesmo porque em pouco tempo já não temia àquela senhora, que a princípio me assustava, e com sua voz suave e melodiosa tabulava comigo um diálogo agradável, acalentador.
Meus pais e meus irmãos se afastaram para se incluírem em um grupo de amigos e me deixaram confabulando com a cigana, pois perceberam minha segurança e a simpatia que ela inspirava.
Movida pela curiosidade quis saber como ela se tornara uma cigana ou se já nascera cigana e ela, incontinente, relatou-me alguns fatos de sua juventude.
Disse-me ter sido um dia muito católica e que já fora noviça. Nessa época, disse-me ela, conheci o padre Agostinho e por ele me apaixonei. Era um amor castro, cheio de pudor, de minha parte mas com o tempo percebi que Agostinho não correspondia ao meu amor e sim nutria por mim uma tremenda idéia de jerico, pois na primeira oportunidade que teve, me levou para atrás de um santuário e me iludiu dizendo que aquelas coisas que ele ia me mostrar era a espada de São Jorge . Inocentemente fiz love com ele e daí pra nove meses depois eu ter tido um "dragãozinho " , foi só um pulo.
Expulsa da ordem como uma megera, uma sedutora, uma prevaricadora, fiz muita coisa que não presta, até me encontrar com meu verdadeiro sacerdócio que é o de ser uma cigana.
Após algum tempo de nossa conversa nos despedimos e me juntei ao grupo de amigos e familiares. Hoje estou relembrando este fato porque freqüentando uma igreja dita protestante, aqui no meu bairro, assistindo a um culto religioso, deparei-me mais uma vez com aquela cigana, mais idosa, vestindo-se a rigor, diria eu exagerado, sem pinturas ou outros adereços, sendo uma das irmãs do aludido curso evangélico, esposa do pastor Agostinho, um senhor de cabelos brancos e ralos, com cara de bundão e olhar de côrno. Aí fiquei pensando: será o mesmo da espada de São Jorge ?
Então resolvi não mais pensar no assunto e voltei para casa entoando, mentalmente, meus preferidos hinos religiosos.

Jogo de Interesses


O progresso é algo necessário na vida do ser humano, pois não fosse assim, creio que a raça humana já estaria em extinção. Acredito que o excesso de progresso também criará ou abreviará nosso fim.
Quando criança aprendi a ser fraterno, a dividir o pouco que tinha com os que tivessem menos que eu. Isso era ensinado nas escolas, nos lares, nas igrejas, nos teatros, nos circus, etc.
Dizer sim era para os nobres, para os puros de coração; hoje dizer sim é sinal de fraqueza já ensinam os professores, os psicólogos, os clérigos, os evangélicos, os pais de santo, os mendigos, as prostitutas, etc.
Pois bem, o que lhes passo a relatar indica bem o estado de espírito em que nos encontramos atualmente ou melhor a prevalência do Jogo de Interesses em detrimento de uma solução amena e benéfica para o ser humano:
" Numa pequena cidade do interior de uma grande capital, relato assim de propósito, indicando o milagre mas omitindo o nome do santo.
Moravam duas famílias: uma exuberantemente rica a outra apenas rica, não de bens materiais, mas sim de virtudes.
O chefe da família abastada beirava seus cinqüenta anos de idade. O da família modesta também. O chefe da família rica e sua prole possuía entre outros bens, postos de gasolina, frota de táxis, canaviais, usinas de cana de açúcar, haras, clubes, lojas de variedades e ainda por cima praticava agiotagem. Não uma agiotagem aberta. Apenas ao emprestar algum dinheiro aos amigos dizia que não queria juros mas gostaria que seu capital retornasse acompanhado de um agrado que poderia vir a permear em torno de seus vinte por cento.
O outro pai de família, o eleitor que se deixava sempre enganar pelas promessas dos candidatos do pai de família rico, tinha também um grande patrimônio, um grande tesouro, que era sua única filha, pois sendo viúvo, sua mulher morrera de tanto passar fome, era sua filha que lhe cuidava carinhosamente e partilhava de seus problemas que não eram poucos.
Quis o destino que a filha do menos afortunado materialmente fosse trabalhar em um dos estabelecimentos do supramencionado ricaço.
O pai adorado e adorável se transformava em uma verdadeira fera no que tangia a defesa , os interesses e a hora de sua mui amada filha e dizia sempre que se algum dia alguém lhe fizesse qualquer tipo de desfeita ele reagiria com a mais extrema das violências.
O certo é que trabalhando na loja do patrão rico, sendo a filha pobre muito bonita, atraiu a atenção do patrão e depois de muita sedução (nhem,nhem,nhem) houve um infeliz colóquio e desse colóquio surgiu o inevitável...uma gravidez.
A situação para o patrão rico era insustentável, pois sendo casado e pai de filhos, a menina ainda menor, por certo teria sua vida arruinada se algo dessa natureza viesse a público ou se alguém buzinasse no ouvido de sua mulher, uma verdadeira fera.
Mesmo correndo perigo de morte procurou o pai pobre, o fera, e expôs o problema anunciando desde já a solução.
Já que a garota estava comprovadamente grávida ele assumiria a paternidade sigilosamente e firmava o seguinte compromisso: se o rebento a nascer fosse homem ele daria ao pai da moça, para ajudar no custeio do neto, dois postos de gasolina e uma fábrica de celulose e se fosse menina, duas fazendas e uma mansão na capital. Mas se ela por um motivo qualquer abortasse. Ao ouvir a última frase o pai pobre fera interrompeu seu interlecutor e num tom quase agressivo gritou: aí você faz outro."
Aí pergunto-lhe paciente leitor: é ou não é fato comprovado que hoje em dia tudo não passa de um jogo de interesses ?
E você, sendo o pai da moça, o que faria ?