25 novembro, 2007

Recordações de uma adolescente


Estava um certo dia caminhando pelas ruas do bairro em que morava juntamente com meus pais e meus irmãos, quando de repente apareceu na nossa frente uma senhora com trajar diferente do normal, com saias rodadas, umas sobre as outras, rosto com maquiagem bastante carregada, cílios longos e postiços, o que para mim, ainda uma criança, me deixou um pouco amedrontada, mas ao mesmo tempo curiosa.
Tratava-se, como vim mais tarde a saber, de uma cigana. Queria a todo custo ler as minhas mãos. Eu não entendia e ficava cada vez mais assustada, apesar da companhia de meus familiares.
Controlando meu nervosismo e mesmo porque em pouco tempo já não temia àquela senhora, que a princípio me assustava, e com sua voz suave e melodiosa tabulava comigo um diálogo agradável, acalentador.
Meus pais e meus irmãos se afastaram para se incluírem em um grupo de amigos e me deixaram confabulando com a cigana, pois perceberam minha segurança e a simpatia que ela inspirava.
Movida pela curiosidade quis saber como ela se tornara uma cigana ou se já nascera cigana e ela, incontinente, relatou-me alguns fatos de sua juventude.
Disse-me ter sido um dia muito católica e que já fora noviça. Nessa época, disse-me ela, conheci o padre Agostinho e por ele me apaixonei. Era um amor castro, cheio de pudor, de minha parte mas com o tempo percebi que Agostinho não correspondia ao meu amor e sim nutria por mim uma tremenda idéia de jerico, pois na primeira oportunidade que teve, me levou para atrás de um santuário e me iludiu dizendo que aquelas coisas que ele ia me mostrar era a espada de São Jorge . Inocentemente fiz love com ele e daí pra nove meses depois eu ter tido um "dragãozinho " , foi só um pulo.
Expulsa da ordem como uma megera, uma sedutora, uma prevaricadora, fiz muita coisa que não presta, até me encontrar com meu verdadeiro sacerdócio que é o de ser uma cigana.
Após algum tempo de nossa conversa nos despedimos e me juntei ao grupo de amigos e familiares. Hoje estou relembrando este fato porque freqüentando uma igreja dita protestante, aqui no meu bairro, assistindo a um culto religioso, deparei-me mais uma vez com aquela cigana, mais idosa, vestindo-se a rigor, diria eu exagerado, sem pinturas ou outros adereços, sendo uma das irmãs do aludido curso evangélico, esposa do pastor Agostinho, um senhor de cabelos brancos e ralos, com cara de bundão e olhar de côrno. Aí fiquei pensando: será o mesmo da espada de São Jorge ?
Então resolvi não mais pensar no assunto e voltei para casa entoando, mentalmente, meus preferidos hinos religiosos.

Um comentário:

Unknown disse...

Senhor li suas históris e gostei muito esperarei pelas proximas pois sei que dotado de tanta imaginação e conciência plena és um contador nato, um abraço de um amigo da sua filho Alexandra.
Edson.