23 fevereiro, 2008

Cabo Jeremias III



Às vezes, nos momentos de folga do trabalho, gosto de sentar na minha cadeira do papai e ficar rememorando alguns fatos ocorridos no dia ou anteriores. Nos últimos anos acrescentei ao meu ciclo de amizades uma boa quantidade de amigos comuns, inclusive há algum tempo atrás consolidei uma grande amizade com uma excelente pessoa, um militar aposentado cuja patente é a de Cabo, o Jeremias. Tenho observado que entre seus pares, Cabo Jeremias goza de uma boa reputação e carinhosamente é chamado pelos seus, de cabo velho. Esse pessoal marítimo tem uma maneira interessante de se comunicar que nos, não pertencente ao meio, ficamos um pouco deslocados. Lembrei-me que, outro dia conversava com meu mais recente amigo, o cabo Jeremias, ou o cabo velho, quando outro militar se dirigiu ao meu amigo e perguntou: o que vai ser o rancho de hoje ? Ele respondeu: mulher de cabo velho. Pela minha cara Jeremias deve ter notado que eu estava confuso e me explicou: mulher de cabo velho, no caso, é uma qualidade de alimento ,ou seja, dobradinha ou bucho. Curioso perguntei se ainda existia outros nomes interessantes a serem usados no cotidiano e ele me ilustrou com os que lembrava no momento, que eram: sandália de kung fu – filé de peixe frito; granada – almôndega; galinha atropelada – galinha ensopada; macaco no cipó – macarronada com salsicha; farda azul – burrinha; chapéu branco – tapioca; Quincas – marujo; cão – sargento; pequenos furtos – gato; bailéu – cadeia; corda – cabo, e muitos outros.
No momento ele só se lembrara dos nomes supramencionados, e como uma conversa puxa a outra, ele me comunicou um breve relato sobre um marinheiro de sua época de nome Laertes e o fato, de tão interessante, merecia ser lembrado. Iniciou assim: Laertes era um bom marinheiro. Um dia desapareceu do navio só retornando vários dias após. Como sua ausência ultrapassava certa quantidade de dias, ele era considerado desertor e responderia a um processo e poderia ser expulso da Marinha. Sendo sua primeira falta e por ser homem de confiança do Comandante do navio, este, por sua própria conta e responsabilidade resolveu dar uma oportunidade a Laertes. A falta fora historiada em um livro de anotações de bordo que recebe o nome de livro de contravenções ou livro de castigo e Laertes foi encaminhado ao Comandante do navio para uma audiência, a fim de justificar seu ato, ou seja,sua ausência.
O comandante pacientemente indagou de Laertes onde ele esteve esse tempo todo e ele disse ao comandante que não sabia. O comandante achou que o marujo poderia ter tido um lapso de memória, amnésia; poderia ter sido abduzido. Olhou para Laertes e com voz calma, pausada, apassivadora, perguntou-lhe: você está se sentindo bem?
Está doente? E o marujo lhe respondeu afirmativamente. O Comandante mais uma vez, com brandura, procurando transmitir-lhe confiança, perguntou: que você acha que tem? O que sente? Já aconteceu fato semelhante outra vez? Laertes respondeu que não mais achava que estava muito mal. O comandante insistiu: mas que você acha que tem realmente? Laertes respondeu: acho que estou com disenteria cerebral. O comandante não ouvira direito e mandou que ele repetisse o nome da doença e ele repetiu: disenteria cerebral. O que vem a ser isso? E o marujo em cima da bucha: tudo que penso dá em merda. A paciência do homem tinha limites; determinou que Laertes fosse colocado a ferros (prisão) por dez dias consecutivos, pois achava ser esse um santo remédio para o mal dele. Depois dessa recordação da conversa que mantive anteriormente com cabo Jeremias estou sonolento e preciso descansar um pouco. Espero em breve me encontrar com o admirável cabo Jeremias para através de ele lhe enviar uma nova e inocente estória vivida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caraaaaaacaaaa....teu blog tah massa tio Will...cada dia que passa as histórias ficam mais engraçadas, criticas e de agrado a nós leitores!!!
Parabéns....